*Sexualidade *

18 de novembro de 2019 612

Tecendo um pequeno comentário ao texto de Hélio Schwartsman  "Ligeiramente grávidas" (Folha, 16/11) sobre  pesquisas que informam o número de adolescentes grávidas de zonas pobres de São Paulo ser  o dobro do das moças de regiões mais ricas, acho estar certo pensar que a causa mais plausível de gravidez precoce ou indesejada esteja na diferença de condições familiares, culturais  e econômicas em que as jovens são criadas.

            É preciso ponderar que o prazer sexual é o instinto mais poderoso do ser humano (e do animal, também!) pois está relacionado com a reprodução da espécie, superado apenas pela alimentação, o sustento da vida individual. Já foi cientificamente provado que não há no mundo prazer mais intenso do que o orgasmo provocado pela relação amorosa entre um homem e uma mulher. Mas, evidentemente, o instinto do prazer sexual, como qualquer outra tendência natural de um ser inteligente, deve ser controlado para não causar danos ao indivíduo ou à sociedade. O sábio grego Epicuro (341-270) já dizia: “Tu, que não és senhor do teu amanhã, não adies o momento de gozar o prazer possível". É o "carpe diem" (aproveite o momento) do poeta latino Horácio, seu admirador.

            Mas a virtude está no meio termo, na dosagem justa dos prazeres. Como a comida e a bebida, a atividade sexual deveria ser moderada e não proibida, vista como algo vergonhoso ou pecaminoso. Há muita hipocrisia em ensinamentos religiosos que permitem o relacionamento sexual apenas para ter filhos e dentro do casamento entre heterossexuais. A realidade é outra. A gravidez precoce, como outros males provocados por práticas sexuais  irresponsáveis (doenças venéreas, incestos, pedofilia, famílias numerosas) está relacionada com ignorância e pobreza. Adolescentes de classe pobre encontram apenas  no contato carnal um pouco de prazer na vida, diferentemente de crianças e jovens de famílias abastadas que têm condições de frequentar escolas que lhes propiciem, além da aprendizagem das disciplinas curriculares, práticas de artes e esportes, que dão vazão ao vigor da juventude. Melhorar o nível educacional e econômico da classe mais pobre seria o meio mais eficiente para reduzir o número de gravidezes indesejadas. O segredo é manter os jovens ocupados em atividades positivas, pois o ócio é o pai de todos os vícios!



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*Salvatore D' Onofrio *
Dr. pela USP e Professor Titular pela UNESP
Autor do Dicionário de Cultura Básica (Publit)
Literatura Ocidental e Forma e Sentido do Texto Literário (Ática)
Pensar é preciso e Pesquisando (Editorama)
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