SOSSEGADA MENTE

4 de dezembro de 2017 1066

É como essa gatinha amarela que todos os dias me vem à porta mendigar: livre e pobre!? Ou pobre, mas livre!?

            Seja como for, é sua escolha, embasada em instinto e experiência.

Ela poderia ficar lá, sentada, recostada no meio-fio; bem ali onde seria presa fácil àqueles que de sua presença se desagradam, e que a apanhariam com pedradas.

            Descobriu-me, porém, do outro lado da calçada, verdadeira amiga sua.

            ...

Desse jeito, todos os dias, a vida está aí, à diferença do previsto e à semelhança do inédito.

            Instintiva e sábia foi a gata no tocante a agir.

            Quanto a mim, sossegada a mente, ficou fácil alcançar a tão sonhada paz de espírito.

            Vai ver paz e espírito estejam mais ligados a raciocínio do que eu tenha até hoje cogitado.

            Vai ver, até, o sonho não morreu.

Ou vai ver tudo isso é só impressão.

Mas, para não ficar somente nos diletantes divagares, e – talvez – ser compreendida, o fato é o seguinte: de uns tempos para cá, sossegadamente, gozo os prazeres das chamadas “coisas do coração”, porque, assim como a gata, agi.

            Avessa às redes sociais por experiência e não por mera resistência (alto lá! – experiência cada um tem a sua), presenteio-me ora de minha própria amizade!

            Notadamente, as pessoas não querem socializar, embora ajam como se o estivessem fazendo notavelmente.

            Com o excesso de Facebook e afins, ninguém mais se comunica hu-ma-na-men-te. E, na ausência da prática, desaprende-se.

            Nessa levada, se há pouco chegavam duzentos e-mails por dia (o que requeria uma boa peneira), agora vêm no máximo uma meia dúzia.

            Telefonemas? Quase só de vendedores e quetais.

            “Você está ficando por fora do que acontece, hein!!!” recebo, dessa vez, por WhatsApp. E “não creio que você ainda não tem Instagram!!!”.

Puro instinto? Parca sabedoria?

            Sei lá.

O que me importa por ora é descartar pseudos issos e aquilos; regozijar-me, compartilhar um pouco de mim comigo mesma: quem eu sou?; o que eu quero de mim?

            De resto, é curtir as pessoas reais que amo, as coisas importantes (e desimportantes também – por que não?) as quais não vou mais, por distrações demais, deixar passar.

            Como eu dizia: seja instinto, seja sabedoria, eis que me volto à vida, após a experiência de desvio da realidade.

           

 

 

 

VALQUÍRIA GESQUI MALAGOLI   -   , escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br