Um copo extra de vinho custa-lhe meia hora de vida?

13 de abril de 2018 547

Beber mais do que um copo de álcool por dia é tão nocivo quanto fumar. Esta é a conclusão de um novo estudo, publicado na revista científica The Lancet, que diz ainda que um copo extra de vinho (ou de outra bebida alcoólica) pode retirar-lhe meia hora de vida.

O artigo defende que ingerir mais do que os cinco copos de vinho padrão de 175 ml são mesmo o limite máximo de segurança. Beber mais do que a dose recomendada aumenta o risco de acidente vascular cerebral, aneurisma, insuficiência cardíaca e morte.

Os riscos são maiores em função da idade: para uma pessoa de 40 anos beber acima do limite diário recomendado é o mesmo que ser viciado em nicotina, defende um dos cientistas que participou no estudo.

"Acima de duas unidades por dia, as taxas de mortalidade aumentam", disse David Spiegelhalter, da Universidade de Cambridge, citado pelo The Guardian.

Ou seja, se uma pessoa de 40 anos beber mais do que quatro unidades por dia - o equivalente a beber três copos de vinho - tem aproximadamente menos dois anos de expectativa de vida, o que representa cerca de 20% da sua vida restante. "É como se cada unidade acima das diretrizes tirasse, em média, cerca de 15 minutos de vida, quase o mesmo [tempo de vida que é retirado por] um cigarro", explicou o cientista.

A recomendação é para que os países com consumos de álcool mais altos (quase o dobro) - como Portugal, Espanha e Itália - reduzam o consumo diário para três copos de vinho diários, no máximo.

O estudo baseou-se em dados de cerca de 600 mil consumidores atuais incluídos em 83 estudos realizados em 19 países. Cerca de metade dos participantes revelaram que bebem mais de 175 ml de álcool por semana e 8,4% admitiram consumir mais do que o triplo dessa quantidade - que é de cinco a seis copos de vinho.

Tim Chico, professor de medicina cardiovascular da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, disse que os fumadores perdem em média 10 anos de vid devido ao vício e referiu que "é provável que as pessoas que bebem mais de 43 unidades [por semana} possam perder ainda mais tempo de vida. O professor disse ainda que não ficaria surpreendido se quem bebe em demasia "perdesse tantos anos de vida quanto um fumador".

"Este estudo deixa claro que, no geral, não há benefícios para a saúde com o consumo de álcool, o que geralmente acontece quando as coisas parecem boas demais para serem verdadeiras", sublinha David Spiegelhalter.

O professor Jeremy Pearson, diretor médico associado da Fundação Britânica do Coração, que financiou parcialmente o estudo, chamou-o de "um grave alerta para muitos países".

Tony Rao, professor convidadono King's College, em Londres, afirmou que o estudo "destaca a necessidade de reduzir os danos relacionados ao álcool em baby boomers, uma faixa etária atualmente em maior risco de aumento do uso indevido de álcool".

Num comentário na revista The Lancet, os professores Jason Connor e Wayne Hall, do Centro de Pesquisas sobre Abuso de Substâncias Juvenis da Universidade de Queensland, na Austrália, preveem que a sugestão de reduzir os limites de consumo recomendado irá enfrentar a oposição da indústria.

Indústria do álcool vai dizer que consumo recomendado é "impraticável", vaticinam cientistas

"Os níveis de bebida recomendados neste estudo serão, sem dúvida, descritos como implausíveis e impraticáveis pela indústria do álcool e outros opositores das advertências de saúde pública sobre o álcool. No entanto, os resultados devem ser amplamente divulgados e devem provocar um debate público e profissional informado", disseram.

A BBC, cita o mesmo estudo, e faz as contas em termos de meses de vida, revelando que a ingestão de cinco a dez bebidas alcoólicas por semana pode reduzir o tempo de vida em até seis meses.

Por cada 12,5 unidades de álcool semanais, aumenta o risco de:

Acidente vascular cerebral em 14%
Doença hipertensiva fatal em 24%
Insuficiência cardíaca em 9%
Aneurisma da aorta fatal em 15%

O consumo de álcool tem sido associado a um risco menor de doença cardíaca, mas os cientistas alegam que esse benefício foi "inundado" pelo aumento do risco de outras formas da doença cardíaca.