Uma confissão sobre Aécio Neves
Porto Velho, RO – Toda vez que me sinto obrigado a falar sobre o assunto morro de vergonha. Por isso, resolvi dizer publicamente de uma vez só pra ver se dói menos: em 2014, votei em Aécio Neves (PSDB) no segundo turno das eleições. No primeiro, em Eduardo Jorge (“A culpa não é minha, eu votei em mim mesmo!”).
Entretanto, diferentemente da maioria a me acompanhar à ocasião, sabia e admitia – sem dó nem piedade – que o tucano era tranqueira de mão cheia, não valia nada e ainda que, convenhamos, trocado por merda era caro, caríssimo!
O passar do tempo provou que estava conceitualmente certo mesmo agindo de maneira equivocada ao confirmar 45. Vou contar daqui a pouco por que escolhi Neves em vez de Dilma, sua adversária.
Antes, um parêntese:
Odeio decepcionar alguns chegados que insistem em me rotular, mas jamais votei no PT embora defenda reiteradamente pautas sociais que eventualmente possam bater com preceitos esquerdistas. Não votei porque quando tive consciência da importância do voto a legenda do ex-presidente Lula já havia loteado a República, nutrindo nomes obtusos que passaram a se fortalecer em Brasília – incluindo Michel Temer (PMDB), que o traiu – depois no Brasil e até mesmo no Mundo.
Isso é mais problema dos que se incomodam com a crítica do que meu, necessariamente, já que se sentem compelidos a levantar bandeiras ideológicas imutáveis e a homenagear seres humanos falhos em camisetas enquanto, de outro lado, pessoas como eu tendem a debater ideias e se permitem mudar de opinião sem receio de incorrer à hipocrisia.
Meu amigo (a), você acha mesmo que vou reforçar estelionatários da fé, pedófilos de saiote, grileiros e políticos que se alimentam destas latrinas morais e outras tantas a mais para perpetuamento eterno no Poder só pra agradar familiares, amigos e colegas que se “descobriram” de direita e resolveram sair do armário do dia pra noite?
Sonha Marcelino, sonha...
Não me importo em soar como isento, o famoso “em cima do muro”, pois sei, francamente, que ao não aderir às marcas dicotômicas travestidas de coletivos socialmente engajados reforço luta solitária, mas justa, a fim de engrandecer embates sérios, relevantes e sem pagar pedágio. Se pertencesse a algum clube, ainda que não o faça nesta existência, já que sou adepto de Marx, o Groucho, não o Karl, seria o da Democracia – mesmo com todas as suas falhas.
Porém, reforço, só na próxima encarnação porque na de agora, definitivamente, não entro em clube que me aceita como sócio.
Ok! Chega de embromação.
Por que há três anos escolhi o cleptocrático Aécio?
Já sentia naquele momento uma ruptura perigosa prestes a eclodir em caos irremediável. Logo, um caminho sem volta. Cidadãos insatisfeitos, com razão, passaram a defender, e aí totalmente sem razão, absurdos consequentemente expondo retrocesso através de opiniões em redes sociais e outras demonstrações de ódio e desrespeito.
Desnorteado, tentando entender aquela idiotice aguda, fui vítima de minha própria ignorância enquanto resenhava sobre a dos outros, o que faço até hoje aceitando de coração aberto o contraditório e a ampla defesa; neste quesito, sem humildade agora, torna-se desnecessário evocar legislação para que seja mais suscetível a promover estes direitos a meus detratores do que a própria Justiça.
Queria mesmo que tudo ruísse a fim de escancarar, de uma vez por todas, que a corrupção não nasceu e nem vai morrer com o PT, porque ela é monopólio da junção carne, osso e malandragem consciente: ou seja, do próprio ser humano. É nossa bagagem. É sua. É minha.
Na minha cabeça ingênua, quando o maior expoente do tucanato alcançasse, enfim, o Alvorada e o playground do Planalto perderíamos, finalmente, a visão tacanha do mocinho contra o bandido que nos prende à mesquinharia maniqueísta irracional.
Só que ele perdeu. Então houve o impeachment. E aí veio Temer.
E Neves perto de Temer é um batedor de carteira de quinta categoria – pelo menos em número de malas. Er... Tá bom, o batedor-mor, no mínimo. E favorecido pelo reforço conveniente do Supremo Tribunal Federal (STF) e também dos colegas congressistas que, às escondidas, obviamente, querem vê-lo por lá fazendo discursos bonitos e entojados mesmo após as escandalosas exposições que colocaram o neto de Tancredo contra a parede. E nada. Absolutamente nada. Ninguém vê, ninguém ouve e ninguém fala. Errei, confesso. Mas em meio a tantos errantes, estou no fim da fila e bem longe do precipício com altíssimas chances de não cair no fosso matadouro.
Os integrantes da Marcha CBF anticorrupção, dos ensurdecedores panelaços Tramontina e das micaretas Fiesp da Av. Paulista comprovaram que o combate à corrupção tem cor, é partidária, defendida com unhas e dentes por interesses econômicos escusos e tem prazo de validade.
Provavelmente os revoltosos de ocasião não tenham mesmo bandidos de estimação, já que os autoproclamados cidadãos de bem estão encoleirados, de quatro, com a língua pra fora e aguardando afago.
Boas meninas, bons meninos: já podem roer os ossos!
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POR: VINICIUS CANOVA