Uma digressão sobre o uso do Chatgpt e a herança genética

7 de julho de 2025 33

Foi, recentemente, divulgado um estudo dos pesquisadores do Laboratório de Mídia do MIT que apresentou como resultado o fato de que os usuários do ChatGPT apresentaram menor engajamento cerebral e "desempenho consistentemente inferior nos níveis neural, linguístico e comportamental" numa comparação entre 54 participantes, divididos em três grupos, aos quais se pediu que escrevessem redações usando o ChatGPT da OpenAI, o mecanismo de busca do Google e nada, respectivamente. Os pesquisadores usaram um eletroencefalograma (EEG) para registrar a atividade cerebral e descobriram que, dos três grupos, ao longo de vários meses, os usuários do ChatGPT ficaram mais preguiçosos a cada redação subsequente, e, com grande frequência, recorreram ao recurso de copiar e colar ao final do estudo. O resultado foi considerado preocupante mesmo que o artigo ainda não tenha sido revisado por seus pares e sua amostra seja relativamente pequena. Mas a autora principal do artigo, Nataliya Kosmyna, alegou ser importante divulgar os resultados para levantar preocupações de que, à medida que a sociedade depende cada vez mais dessas ferramentas para sua conveniência imediata, o desenvolvimento cerebral a longo prazo pode ser sacrificado no processo. É uma tese muito interessante que, no fundo, tem por base o conceito de uso e desuso, popularizado por Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829). Foi ele quem propôs que órgãos muito usados se desenvolveriam, e os pouco usados atrofiariam, transmitindo essas mudanças aos descendentes. Embora depois Darwin tenha concordado que o desuso poderia levar à redução funcional do órgão, num indivíduo, acrescentou o pensamento de que apenas mutações vantajosas herdáveis e a seleção natural explicariam mudanças evolutivas reais. De modo que esta ideia não é aceita integralmente hoje, pois sabemos que características adquiridas pelo uso ou desuso não são herdadas geneticamente desta forma. Porém, é preciso acentuar, que cientificamente, “o órgão que não se usa deteriora” é verdadeiro como princípio fisiológico de adaptação e atrofia por desuso em organismos vivos. Ainda que com a ressalva de que não se aplica como teoria evolutiva de herança de características adquiridas. Bem, o fato é que há uma diferença significativa entre a visão de Lamarck vs Darwin sobre “uso e desuso” dos órgãos. Enquanto Lamarck acreditava que o desuso causava atrofia e está atrofia era herdada, a posição de Darwin foi de que apenas poderiam ser transmitidas se conferissem alguma vantagem à espécie. Bem, o que sabemos é que este processo é uma parte fundamental da evolução, onde as características que ajudam na sobrevivência e reprodução tendem a se perpetuar. Então, podemos dizer que, em última instância, as mudanças nos indivíduos podem se transformar em mudanças na espécie, contribuindo para sua evolução ao longo das gerações. Com base nisto, como tudo é relativo, é bem possível também que a hipótese de Darwin possa não estar 100% certa e que também possam ser hereditários mudanças que não contribuam para a evolução da espécie. Até porque a seleção é aleatória. Considerando isto, de fato, os resultados sobre o uso do ChatGPT podem ser muito preocupantes. E uma evolução que contribua para a involução humana. E mesmo que não passe de geração à geração persiste o fato de que o desuso atrofia o órgão.

Fonte: SILVIO PERSIVO
A POLITICA VISTA POR UM POETA ( SILVIO PERSIVO

Colaborador do quenoticias.com.br, Silvio Persivo é Economista com Doutorado em Desenvolvimento Sustentável pelo NAEA, escritor, poeta e professor de Economia Internacional e Planejamento Estratégico da UNIR. E-mail: silvio.persivo@gmail.com