VELHOS PROBLEMAS

23 de janeiro de 2018 850

 Embora a gente viva acreditando que ao virar o ano as coisas possam mudar, a verdade é que nem de longe isso acontece como gostaríamos. O que nos move, no fundo, é a esperança de que novos ciclos comecem e que antigos se fechem. Já escrevi sobre isso várias vezes, inclusive. Fico até pensando que fiz isso de forma inconsciente, talvez pensando em caixa alta e tentando me convencer disso.

            O fato é que 2018 já gastou metade de seu primeiro mês e muito do que vejo por aí são os mesmos velhos problemas. Os pobres continuam pobres e os ricos continuam ricos. A classe média, como sempre, vive se espremendo para sobreviver, tarefa cada dia mais inglória. Passadas as festas de fim de ano, passou também o alívio de se ter superado mais uma etapa, bem como aquela sensação de que os problemas estavam pausados, meio suspensos pela animação e pela fé em dias melhores.

            Acabou o gás de cozinha e a alegria de encontrar um mero botijão beirando os cem reais é algo indescritível. A esperança de que a compra semanal sairia mais barata agora que não inclui nada para a ceia ou mimos para os amigos e família vai por água abaixo tão logo a moça do caixa pergunta se vou pagar com débito ou crédito, pois minha vontade é de perguntar se aceitam financiamento ou mesmo um pouco de sangue.

            Aqui em São Paulo o ano já começou quente: greve de metroviários e a passagem que aumentou. Inconformadas, as pessoas foram para as ruas, manifestando seu desgosto com mais uma perda em suas economias. A polícia, por dever, é chamada para acompanhar a ocorrência, mas estou certa de que, tão desgostosa quanto o restante da população, passaria para lado dos manifestantes sem pestanejar, caso pudesse. Claro, por óbvio, que me refiro ao legítimo direito de insurgência e não aos eventuais baderneiros oportunistas.

            Infelizmente, cá estamos nós de novo defronte àquilo que já nos incomodava em 2017 e nos anos anteriores e mais uma vez eu me questiono sobre o que é preciso fazer para que algo realmente mude para melhor. Sobretudo em ano de eleições, acredito que a grande maioria dos brasileiros se encontre preocupada com o destino que espera nosso país já tão assolado por falcatruas e bandidos de colarinho encardido de tão sujo.

            A verdade é que a população brasileira está no limite de sua paciência, já tendo praticamente esgotado sua inocência. Tanto vagabundo nos enganando, surrupiando dinheiro público para compra de mansões, para estudar filhos no exterior, para enriquecer a parentalha, que é quase impossível acreditar em alguém. Eu já não boto minha mão no fogo por mais ninguém. Cansei de perder a pele. Agora só acredito vendo e olhe lá. Em terra de política, quem vê cara e promessa, só vê isso mesmo.

            Enquanto uns enchem a burra de dinheiro alheio, outros vivem pelas ruas, sem nada, nem mesmo esperança. Assistência social parece nem existir. As pessoas vão perdendo a nitidez e se tornando mais invisíveis na medida em que deixam de ser pagadoras de impostos. Viram estorvo, nada mais. E lá vamos nós, de novo, discutir auxílio moradia de funcionários públicos... Tudo velho de novo. Mas tá tudo certo, porque logo vem o Carnaval. Isso é Brasil!

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA -Advogada,professora universitária, membro da Academia Linense de Letras e escritora.  São Paulo-