Blocos descolados
A pesquisa CNT/MDA mexeu com os nervos do mercado e o dólar roçou os R$ 4. Foi uma reação aos 37,3% de preferência obtidos por Lula, seu maior índice nominal na campanha, mas também à divisão dos candidatos em dois blocos nítidos. Um, composto por Lula e Bolsonaro, que também cresceu 1,6% e agora teria 18,3%. E outro formado pelos demais candidatos, onde os quatro que pontuaram mais de 1% somam 17,3%. Juntos, têm menos pontos que Bolsonaro, fortalecendo a indicação de que ele e Lula é que chegarão ao segundo turno. Divulgada no início da noite, a pesquisa Ibope/Estado de S. Paulo/TV Globo trouxe números quase idênticos e também os dois blocos descolados.
Mas Lula não será candidato, dirá logo o leitor. De fato, nem mesmo a recomendação do Comitê de Direitos Humanos da ONU deve impedir a impugnação de sua candidatura pelo TSE, levando a um novo round jurídico, no âmbito do STF, onde será tentada a suspensão da inelegibilidade, já concedida a muitos candidatos a prefeitos condenados em segunda instância. A lei da ficha limpa tem um artigo, o 26, que serve de brecha para a homologação de candidatos condenados, quando o Judiciário quer. Mas a inabilitação de Lula obedece a ditames do verdadeiro poder no Brasil, e precede à sua própria condenação. Para que ficasse inelegível é que foi condenado em ritmo veloz pelo TRF-4. Nas pesquisas, os que declaram a intenção de votar nele não o fazem ignorando sua situação, mas numa espécie de desafio à trama da exclusão.
O mercado também sabe que Lula não será candidato mas reagiu à pesquisa porque, de certa forma, ela coloca os demais candidatos, entre eles o seu preferido, o tucano Geraldo Alckmin, no balaio da baixa competitividade. E quase todos, com viés de baixa. Marina Silva tinha 7,6% em maio, aparece com 5,6%. Alckmin, que tinha 4%, foi o único que cresceu, mas chegando apenas a 4,9%. Ciro Gomes tinha 5,4% e agora teria 4,1%. Álvaro Dias tinha 2,5% e agora teria 2,7%. Os demais têm menos de 1%. Descolando-se do resto, Lula e Bolsonaro vão desenhando o cenário mais tenebroso para a elite econômica, que a obrigará a abraçar Bolsonaro, com todo seu despreparo, ou a assimilar um novo governo de esquerda.
Lula não deve ser candidato, mas seus 37,3% inquietaram porque, quanto mais forte ele estiver, mais chances terá o PT de viabilizar seu plano B, agora em curso com a escolha de Fernando Haddad como vice. Na mesma pesquisa, 17,35% disseram que votariam nele se Lula não puder disputar. É pouco ainda para levar o vice ao segundo turno, mas o jogo da transferência de votos ainda nem começou.
Bolsonaro tem explicitado nos debates o quanto é pequeno e simplista, autoritarismo à parte, diante da complexidade dos problemas brasileiros. Mas, apesar dos vaticínios, não escolheu e hoje estaria no segundo turno.
Nas redes
Na primeira semana após o registro das candidaturas, a chapa Lula-Haddad, segundo a análise da Aja Solutions, ficou com a maior fatia de relevância e visibilidade (R&V) no Twitter: mais de 33% do total. A chapa teria sido impulsionada na rede pela recomendação do Comitê de Direitos Humanos ONU, para que o Estado brasileiro garanta as condições para Lula concorrer.
Jair Bolsonaro manteve o segundo lugar mas sofreu um baque depois da refrega que sofreu de Marina Silva no debate da RedeTV. Alckmin parece estar apostando alto na televisão e investindo pouco em redes sociais: ficou em sétimo lugar.
Vergonha
“Eles nos expulsaram como cachorros”, disse a venezuelana Yineth Manzol, sob a ação de brasileiros em Pacaraima. Com escorraças assim, como poderemos reclamar de um Trump, quando sequestrar crianças filhas de imigrantes brasileiros?
O tempo e o plano
Termina amanhã, dia 22, o prazo para a contestação da candidatura de Lula junto ao TSE. Em seguida o PT será notificado e terá sete dias para se manifestar. E com isso teremos chegado ao dia 30, véspera do início do horário eleitoral.
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A POLITICA COMO ELA é (POR : TEREZA CRUVINEL)
Tereza Cruvinel atua no jornalismo político desde 1980, com passagem por diferentes veículos. Entre 1986 e 2007, assinou a coluna “Panorama Político”, no Jornal O Globo, e foi comentarista da Globonews. Implantou a Empresa Brasil de Comunicação - EBC - e seu principal canal público, a TV Brasil, presidindo-a no período de 2007 a 2011. Encerrou o mandato e retornou ao colunismo político no Correio Braziliense (2012-2014). Atualmente, é comentarista da RedeTV e agora colunista associada ao Brasil 247; E colaboradora do site www.quenoticias.com.br