Canal de Suez faz 150 anos ameaçado pela rota num Ártico sem gelo

16 de novembro de 2019 233

Presente na inauguração do canal de Suez, Eça de Queiroz, então um jovem repórter ao serviço do DN, não esconde nos seus escritos a admiração por Ferdinand de Lesseps. "É diplomata, orador, engenheiro, financeiro e soldado. Tem tudo isto e esta harmonia de qualidades é o segredo da sua inquebrantável força e do seu constante triunfo nesta obra do Suez", diz do engenheiro francês graças a cujo engenho, a partir de 17 de novembro de 1869, os navios em rota da Europa para a Ásia e vice-versa passaram a poupar milhares de quilómetros, desistindo da chamada Rota do Cabo.

 

Mas, agora que se comemoram os 150 anos da façanha de engenharia, é a Rota do Suez que sofre a ameaça de velhos e novos concorrentes. Por um lado, os recentes aperfeiçoamentos no canal do Panamá (iniciado em 1880 por Lesseps também, mas concluído pelos americanos em 1914), por outro, a Rota do Ártico (ou do nordeste), vêm propor às grandes companhias de navegação alternativas à passagem do mar Vermelho para o Mediterrâneo.

Sobretudo o degelo que está em curso nas imediações do Polo Norte, possível consequência do aquecimento global, permite uma poupança de sete mil quilómetros na viagem de um navio porta-contentores entre Yokohama, no Japão, e o porto holandês de Roterdão. Em vez de viajar 20 700 quilómetros num sentido, os cargueiros passariam a fazer 13 600. A redução drástica dos quilómetros significa uma redução também drástica de custos e países como Japão, China, Coreia do Sul e Rússia sentem uma óbvia atração por esta alternativa. O ponto fraco é que se trata de uma rota aberta só nos meses mais quentes e mesmo assim a precisar de navios corta-gelos em certas partes do percurso.

Da parte das autoridades egípcias tem havido consciência da competição e, por isso, já no tempo do presidente Abdel Fatah al-Sissi, em 2015, uma gigantesca obra de modernização do Suez foi concluída, com a abertura de duas vias de sentidos inversos. Também do ponto de vista comercial o Suez tomou medidas para se manter competitivo, com promoções e descontos.