CARTAS AO MENINO JESUS
No número de Nov/Dez, da revista “ Move-Nos”, do ano passado, apareceu interessante artigo intitulado: Cartas com barbas”, onde o articulista, diz: “ O projecto das cartas ao Pai Natal, foi lançado, em 1985”. Disse, e disse bem; mas olvidou – certamente por desconhecimento, – que já em 1971, o jornal “ O Comércio do Porto” (01-01-71), recolheu as cartas enviadas pelas crianças, ao Menino, e respondeu a muitas.
Nessa época, o Pai Natal, ainda não tinha “saneado”, o Menino, das famílias portuguesas.
Soube-se, na redacção do matutino, que as cartas para o “ Menino” eram enviadas para “Refugo”.
E soube-se, também, que nos anos cinquenta (ou sessenta?) os trabalhadores da Central dos Correios do Porto, cotizaram-se para comprar boneca a menininha pobre, que a pedira em termos comoventes.
Com aprovação de Costa Barreto, coube ao jornalista Pinho da Silva, expor ao director da “ Central”, o Sr. Mário Domingues, a ideia do jornal.
Este, logo acarinhou o projecto, e solicitou ao Sr. Pinto Monteiro e ao Sr. Nunes, para colaborarem como diário portuense.
Reunida a correspondência, foi levada a pequena salinha – que ficava junto da redacção do matutino, – onde havia sólida mesa pé-de-galo e pesados cadeirões, – onde o Sr. Costa Barreto, após ler algumas missivas, deu interna liberdade, ao jornalista, para “cozinhar” as respostas.
Tudo isso é do desconhecimento dos CTT, penso eu.
Para satisfazer a curiosidade dos leitores mais interessados, translado, o início do artigo que veio a lume, in “ O Comércio do Porto”:
“ Por esta altura dos meus anos, os Correios lá do Céu não tem mãos a medir! É uma farturinha de cartas que nem fazes ideia! …Vem de todos os cantos do mundo! …Ele são cartas m português, em francês, em inglês, em chinês, imagina tu! Até em chinês! Ora eu não posso responder a tudo ao mesmo tempo, e então resolvi arranjar uns secretários por aqui, por ali, por acolá, de maneira que…
-” Não ponhas mais na conta, querido Jesus do meu coração: - pelos vistos secretário, “ por aqui”… fico a ser eu!!!? - atalhei, todo bobadinho de alegria.”
E o “ secretário” começou a responder aos meninos e meninas portuenses.
Tudo aconteceu, catorze anos antes dos CTT criarem “oficialmente” as “ Cartas ao Pai Natal”.