Combustível: A democracia do ir e vir e a ditadura do preço
Antes do advento do automóvel de Henry Ford a maioria do cidadão americano, na sua vida toda, não se deslocava mais que 20 km da sua casa. Era onde se podia ir a cavalo. E foi com o Ford “T” produzidos em série e barato, acessível à todos, que a humanidade conheceu o verdadeiro cavalo de troia da era moderna. O combustível e a famosa gasolina.
Daí dá pra se imaginar o que aquele carro feio, de uma só cor, mudou o mundo. O carro barato, produzido em massa, a cerca de 280 dólares, provocou a construção de estradas, fez surgir uma gama de fábricas, comércios e serviços. E aí vieram os caminhões, máquinas, ônibus, geradores e motores possantes que impulsionam navios, trens. E a vida de todos melhorou.
As cidades surgiram e cresceram. Deslocamos, comemos, viajamos e temos acesso à remédio, comida. Nossa vida melhorou e muito. E tudo vem pelo asfalto do petróleo em cima do caminhão. E assim, em cima do asfalto, construímos o nosso direito de ir e vir.
Mas como tudo tem um preço, a gasolina do petróleo tem o seu preço. E todos nós temos que pagar para tê-la no tanque do carro. Nos Estados Unidos, lá, a gasolina custa 30 (trinta) centavos de dólar, na bomba (R$ 1,12). Aqui no Brasil o preço da gasolina na bomba, atualmente, em alguns lugares ultrapassa R$ 5,00 (cinco reais).
Esse preço exorbitante é a “ditadura” na terra tupiniquim. A Petrobrás fica com 45%, ai se vê que a estatal, que puxa o índice de negociação na bolsa de valores, consegue ter preço na refinaria bem maior que os americanos pagam ao abastecer nos postos de combustíveis.
Aí vem os governos, federal e estadual, donos do maior caça níquel da história, com seus impostos IPI, Cofins, Cide, ICMS que acabam levando mais 40%. E por último as distribuidoras de petróleo e os postos de combustíveis que ficam com cerca de 15%.
Ai meu amigo, da camisinha ao lubrificante íntimo, passando pela batata, o tomate, o arroz, o feijão, o leite, o seu passeio, o meu, tudo está indexado ao preço da gasolina e do tal do diesel. Você não come e nem bebe gasolina ou diesel. Mas toma o refrigerante, a água, a cervejinha, e todo mundo já sacou a sua dependência por esses produtos. Você é um drogado. Viciado. Você não cheira. Não injeta. Mas você é um cidadão altamente viciado. E seu vicio tem um preço.
Aí está a ditadura do preço. Você paga! Tem que pagar! Não tem escolha! Não tem como reclamar. Se você se rebelar é antidemocrático. Se pedir intervenção militar, já tem uma. A Cide. Se questionar a Petrobrás, a empresa brasileira que faz da bolsa de valores brasileira o maior cassino no mundo. A resposta é que acompanha o preço internacional do barril de petróleo.
Se questionar os altos impostos que cobram os governos, federal e estadual, a lei de responsabilidade fiscal impede que abram mão de receita. Qualquer político tem isso gravado na boca! Se baixar de um lado tem que entrar de outro lado. E nas bombas? Tem muito empresário experto. Adulteram as bombas, os combustíveis. Aumentam abusivamente os preços. E a resposta é a liberdade de mercado.
E se voltando para a anatomia do corpo humano, todos nós comemos pela boca e evacuamos pelo “c..”. Talvez seja, também, mais uma ditatura. Mas analisando o que está entrando pela nossa boca, tem muito da ditatura da gasolina que transporta o arroz, o alface, o feijão, a carne. E o cardápio é maior. Fica indigesto. Temos que eliminar a ineficiência e a corrupção na Petrobrás e do sistema de distribuição. Eliminar, também, a ineficiência do setor público e sua voracidade em arrecadar. E mudar o nosso sistema de representação política, que favorece conchavos, privilégios e a impunidade.
Todos estão matando a nossa democracia e nos aprisionando nesta ditatura do preço e dependência da gasolina. E pouco importa se vamos conseguir eliminar essas distorções e aberrações, com os militares ou civis no comando do governo federal.
Autor: Antonio Carlos Alberti.
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ANTONIO CARLOS ALBERTI
Antonio Carlos Alberti jornalista, consultor empresarial formado em Adm. Empresas Pós-graduado em Planejamento Estratégico e MBA em Finanças.