E assim foi
Seria impossível contar esta história sem que tivesse chegado em minhas mãos os alfarrábios de Luiz Ehrich de Menezes, do qual, no fim, sou um mero repassador. Ehrich, que foi vereador e virou nome da Câmara Municipal de Costa Marques, escrevia sobre fatos e coisas do Guaporé, pioneiro daquele município e profundo conhecedor de sua história. Um pesquisador no melhor sentido e tão enraizado na sua terra que afirmava que “sair daqui é uma questão de tempo, tempo do Guaporé secar e a serra mudar”. É dele a lembrança de Roman Corcova, um boliviano culto, boa praça, mas que falava tão devagar que, entre uma palavra e outra, levava, talvez, quatro minutos. Não que fosse gago. Era por ficar pensando na palavra seguinte. Muito dele o modo de falar. Um dia contou para o Luiz que, no porto, viu um fogo andando debaixo de uma mangueira que o impressionou tanto que marcou o lugar com um prego. Isto tinha sido quatro ou cinco anos antes. E o fenômeno repetiu-se na noite passada. Como tinha quatro barqueiros sem fazer nada no porto de Versalhes, então, Luiz propôs cavar um buraco no local para encontrar um possível tesouro enterrado. Como lá estava animado com a chegada da Coroa do Divino, para despistar, diríamos que estávamos cavando um sanitário. Roman se encarregou de conseguir as pás, enxadas e picaretas. E, da parte de Luiz Ehrich, entraria com os homens e a bebida. E assim foi feito. Mediu-se um buraco de dois metros por três, arranjou-se latas e cordas e lá pelo meio dia iniciou-se a abertura do buraco. Passavam pessoas e perguntavam o que se estava fazendo e a resposta era sempre a mesma: um sanitário para a comunidade. E os homens cavando até cair a noite e, de noite, continuaram com uma lâmpada Aladim. Com um metro encontraram o prego. Inexplicável como parou naquela fundura. Alcançava já os três metros quando a terra deixou de ser como virgem e virou superficial com vestígios de cacos de cerâmica misturada com terra negra. E prosseguiu, de forma redonda, com apenas um metro deixando de ser uma cavação uniforme. O serviço avançou mais rápido e, de madrugada, já tinha cinco metros de fundura quando terminaram os vestígios de terra não virgem. Um dos barqueiros de nome Rafael disse “Sabe, seu Luiz. Eu acho que somente enterra dinheiro ou riqueza quem é velho e velho não iria ter forças para cavar tão fundo. Quem tem forças para cavar são os novos e a gente nunca enterrou dinheiro, portanto estamos trabalhando feito bestas”. Foi a senha para desanimar de buscar o tesouro e deixar para lá. Não foi um trabalho vão. Dizem os cablocos que o que tem que ser tem muita força. E o buraco serviu mesmo para fazer um sanitário para a comunidade. Tinha que se fazer um sanitário mesmo, não é?
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A POLITICA VISTA POR UM POETA ( SILVIO PERSIVO
Colaborador do quenoticias.com.br, Silvio Persivo é Economista com Doutorado em Desenvolvimento Sustentável pelo NAEA, escritor, poeta e professor de Economia Internacional e Planejamento Estratégico da UNIR. E-mail: silvio.persivo@gmail.com