Entenda operações do Master que levaram à prisão de Vorcaro

19 de novembro de 2025 49

A Operação Compliance Zero, deflagrada na última terça-feira (18/11), foi embasada em operações financeiras realizadas pelo Banco Master que chamaram a atenção das autoridades para possíveis irregularidades.

Os casos são citados para justificar a tese dos investigadores de que o banco era reincidente e adotava um “padrão de violação de normas regulatórias”, o que, de acordo com eles, indicam a “possível existência de um vínculo associativo permanente para fins criminosos dos dirigentes do Banco Master”

De acordo com os documentos, o Master emitiu aproximadamente R$ 50 bilhões em CDBs e CDIs, dos quais R$ 12 bilhões estariam descobertos, já que a carteira de ativos estaria lastreada majoritariamente em ativos de baixa liquidez. De acordo com os investigadores, a solução do grupo para aportar recursos muito superiores à produção histórica para cobrir o rombo de R$ 12 bilhões constituiu em “associar, ilicitamente, a uma sociedade de crédito direto, com objetivo de inflar seu patrimônio artificialmente, por meio da aquisição de carteiras de créditos inexistentes e revendê-las ao BRB”.

Em outra frente, apura-se a atuação do BRB, que comprou as carteiras de crédito que representavam 30% de todos os ativos, o que aponta que a instituição pública buscou amparar o Master na crise de liquidez, de acordo com os investigadores.

O Ministério Público Federal (MPF) desconfiou de R$ 6,7 bilhões em carteiras de empréstimos consignados adquiridos pelo BRB, porque eram vinculados a mensalidades e serviços associativos de servidores de baixo valor. Após questionar o Banco Master, a instituição passou a atribuir a titularidade das operações à Tirreno.

Segundo as investigações, para resolver o problema da insolvência, o Master adquiriu créditos de terceiros para repassá-los a parceiros comerciais sem coobrigação, desviando de limites legais. O banco assinou um contrato com a Tirreno Consultoria, em dezembro de 2024, um mês após a empresa ter sido criada.

Dois dias antes do contrato, o capital social da Tirreno foi ampliado para R$ 30 milhões e passou a incluir como diretor André Felipe de Oliveira Seixas Maia, ex-funcionário do Master.

O MPF indicou que o contrato inicial de parceria e um dos instrumentos de cessão sequer foram autenticados em cartório, enquanto os demais instrumentos de cessão foram autenticados somente em maio de 2025, indicando falsificação de documento para atender aos pedidos da área técnica.

Os investigadores apontaram que, ao mesmo tempo em que foi anunciada a operação de compra do Master pelo BRB, os dirigentes das instituições ajustaram a transferência de R$ 12 bilhões sem documentação e em violação às normas regulatórias, para evitar a quebra do banco privado antes da conclusão da análise pelo Bacen. O Master teria adquirido carteiras de crédito da Tirreno sem pagar nada e posteriormente as revendido ao BRB, com pagamento imediato de R$ 12,2 bilhões.

 

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A deflagração da operação ocorre um dia depois de um consórcio de investidores dos Emirados Árabes Unidos, em parceria com o grupo de participações Fictor, anunciar a compra do Banco Master, com aporte inicial de R$ 3 bilhões

Os investigados serão ouvidos pela Polícia Federal e podem responder a processos criminais e sanções administrativas do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

A PF também deve aprofundar a análise sobre a origem dos recursos movimentados e eventuais beneficiários finais das operações fraudulentas

 

Os investigadores citam também o caso de uma clínica no interior de Minas Gerais, batizada de Mais Médicos. A clínica teria emitido treze notas comerciais, totalizando um volume de R$ 361.147.355,00 em emissões. Todas adquiridas pelo Jade Fundo de Investimento em Direitos Creditórios, que apresenta como único cotista o Banco Master.

Sócia da Clínica Mais Médicos, Valdenice Pantaleão de Sousa teria vínculo com outra instituição com negócios com o Master, o Hospital São José, que emitiu R$ 213,9 milhões em notas comerciais, adquiridas também pelo Fundo Jade. “Esse conjunto de elementos, segundo o MPF, reforça a suspeita de que Valdenice teria sido utilizada pelo esquema para artificialmente inflar o patrimônio do Banco Master.”

O documento cita, ainda, operações envolvendo diversos fundos imobiliários. São eles: Fundo Imobiliário Brazil Reality, Fundo Imobiliário São Domingos, Fundo Imobiliário BR Hotéis e o Fundo Imobiliário Brazilian Graveyard Death and Care.

Esquema investigado

A ação, deflagrada nesta terça-feira (18/11) pela Polícia Federal, visava desmontar um esquema de emissão e negociação de títulos de crédito falsos envolvendo instituições do Sistema Financeiro Nacional. De acordo com o processo, o Master teria adquirido carteiras de crédito sem realizar qualquer pagamento e, em seguida, revendeu ao BRB com pagamento de R$ 12 bilhões, divididos em dois meses.

Segundo o juiz, “há indícios contundentes de um suposto esquema articulado para fraudar o sistema financeiro, iludir órgãos de controle, prejudicar investidores e obter vantagens indevidas”. “Trata-se de um conjunto de ações coordenadas, voltadas à ocultação de informações, falsidade documental, manipulação de dados contábeis e à realização de operações deliberadamente estruturadas para encobrir ilícitos”, citou.

Além das instituições financeiras, foram alvo da determinação os investigados abaixo. O juiz Ricardo Augusto Soares Leite também autorizou o bloqueio de bens em nome dos filhos menores de idade de todos.

Confira a lista de alvos:

Daniel Vorcaro, dono do Master;

Augusto Lima, ex-sócio do Master;

Luiz Antônio Bull, diretor de Riscos, Compliance, RH, Operações e Tecnologia;

Ângelo Antônio Ribeiro da Silva, um dos sócios do Master;

André Felipe de Oliveira Seixas Maia, diretor da Tirreno e sócio da Cartos Fintech;

Paulo Henrique Bezerra Rodrigues Costa, presidente afastado do BRB;

Dario Oswaldo Garcia Júnior, diretor financeiro afastado do BRB;

Robério César Bonfim Mangueira;

Tirreno Consultoria, Promotoria de Crédito e Participações S.A;

Cartos Sociedade de Crédito Direto S.A;

Associação dos Servidores Técnico-Administrativos e Afins do Estado da Bahia (Asteba); e

Associação dos Servidores da Saúde e Afins da Administração Direta do Estado da Bahia (Asseba).

Fonte: Gabriella Furquim Isadora Teixeira