Entenda por que o Brasil não pode reclamar de falha de arbitragem em Mundiais
18 de junho de 2018
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Rostov-On-Don — Antes de reclamar, com razão, do árbitro mexicano César Ramos, o povo brasileiro precisa lembrar-se de dois nomes de juízes que deram um senhor empurrão para que a Seleção estreasse com vitória em Copas do Mundo. Em 2002, o sul-coreano Kim Young Yoo marcou um pênalti em Luizão numa falta fora da área. Há quatro anos, dentro de casa, o japonês Yuichi Nishimura facilitou a vida dos anfitriões ao assinalar pênalti polêmico em Fred e colaborou com a virada por 3 x 1, na Arena Corinthians.
Resumindo: o Brasil consumiu toda a franquia em estreias. Exigir recarga automática na abertura da Copa da Rússia, ainda mais enfraquecido politicamente nos bastidores da Fifa, chega a ser constrangedor. É melhor aceitar, que dói menos. Houve falta. O árbitro de vídeo poderia ter sido usado — a novidade existe para isso —, mas é necessário admitir que a Seleção não entregou para a torcida o que se esperava de um time que, em 22 jogos, contando com o da Suíça, só perdeu um, e mostrou paciência para superar Croácia e Áustria nos últimos testes antes da estreia na Rússia. Paciência de Jó até.
Estava claro que a Suíça exploraria o ponto fraco do Brasil. O Correio alertou, mais de uma vez, para o perigo da bola aérea. Antes da estreia, a Seleção havia sofrido cinco gols. Todos eles, com origem em cobranças de falta, de escanteio e com bola rolando.
Vladimir Petkovic sabia disso. Mudou a postura tática no início do segundo tempo. Ao avançar os laterais Lichtsteiner e Ricardo Rodríguez, apostou no ponto forte de sua equipe. Dos 26 gols marcados pela Suíça desde 2017, 25% foram de cruzamentos. Steven Zuber, de 26 anos e 1,81m, usou a malandragem “suíça” para tumultuar a vida do experiente Miranda.
Suíça explora bola aérea
A Suíça fez o que outros adversários exploraram. Nas Eliminatórias, a Colômbia balançou a rede do Brasil duas vezes de cabeça. A primeira, em um gol contra de Marquinhos, e outro graças, a Falcao García. O Japão marcou um assim. O gol da única derrota da era Tite, contra a Argentina, começou num cruzamento de Di María, uma cabeçada de Otamendi e a finalização de Mercado. A defesa também se atrapalhou contra o Uruguai, após um cruzamento em que Marcelo tentou recuar a bola para Alisson. Cavani fez de pênalti.
Lembrado desses lances pela reportagem, Tite se esquivou. Preferiu atribuir o gol ao empurrão de Zuber em Miranda. “Aceito falar de todos os outros gols de cabeça que levamos, o de hoje (ontem), não. Foi notório o empurrão. Não foi posicionamento, foi falta”, defendeu. “Tomamos seis gols em 22 jogos. A bola parada na Copa beirou, nesses primeiros jogos, 45% dos gols. Mas, desse gol, não aceito a observação.”
Uma atitude de Tite parece acertada. Ele vetou reclamações publicamente. “Não tem de pressionar arbitragem. Tem gente para avaliar, não podemos ter uma equipe desequilibrada”, argumentou. “O lance do Miranda é muito claro. O lance do pênalti (em Gabriel Jesus) é passível de interpretação. O primeiro, não. Não dá para conceber alto nível dessa forma”, disse.

Miranda fala
Empurrado por Zuber no lance crucial do empate por 1 x 1, o zagueiro Miranda disse que deveria ter agido com esperteza. “Se tivesse me jogado, poderia assinalar mais o empurrão, mas tem o árbitro de vídeo. Eles viram, acharam que não foi para tanto. Vida que segue, pensar jogo a jogo”, resumiu.
Ao conversar com o zagueiro sobre a jogada, Tite o repreendeu. “O Miranda me disse que, talvez, deveria ter caído após o empurrão para deixar a falta mais clara. Eu disse para ele: ‘Não, aí caracterizaria simulação, e eu não quero isso’”, revelou.
"Se tivesse me jogado, poderia assinalar mais o empurrão, mas tem o árbitro de vídeo"
Miranda, zagueiro do Brasil
"Não tem de pressionar arbitragem. Tem gente para avaliar, não podemos ter uma equipe desequilibrada. O lance do Miranda é muito claro. Não dá para conceber alto nível dessa forma"
Tite, técnico da Seleção
NOTAS
Alisson: 5
» Saiu sem sujar a roupa. Quase não foi exigido, mas, na hora em que o time precisou dele — saída na pequena área para tirar a bola cabeceada por Zuber, que acabou em gol —, travou.
Danilo: 6
» Outro que quase não se viu em campo, mesmo porque a Suíça pouco explorou seu lado. Na defesa, não chegou a se complicar. O problema é que também pouco chegou ao ataque.
Thiago Silva: 7
» Sem dúvida, um dos destaques do time brasileiro. Mostrou segurança quando as jogadas chegavam pelo seu lado. E ainda conseguiu subir para assustar a defesa adversária.
Miranda: 5
» Mesmo sendo empurrado no lance do gol, poderia ter se posicionado melhor ou, pelo menos, respondido com força à ação do suíço. Até então, estava seguro.
Marcelo: 6
» Apesar do esforço e das boas jogadas no ataque, teve algumas falhas defensivas, principalmente no primeiro tempo. Mas foi
obediente taticamente.
Casemiro: 7
» Como sempre, sólido como uma rocha defensivamente e muito bem no apoio ao ataque. Deu alguns passes e lançamentos com primor. Saiu porque tomou cartão amarelo e Tite quis correr riscos (Fernandinho: 5).
Paulinho: 6
» Começou muito bem e até quase fez gol, mas, com o tempo, foi caindo de produção e acabou substituído no segundo tempo. (Renato Augusto: 6).
Philippe Coutinho: 8
» A nota vai pelo golaço que deu tranquilidade para o Brasil no primeiro tempo. Na etapa final, porém, não apareceu tanto e ainda perdeu chance clara depois de passe de Neymar.
Willian: 5
» Não parecia aquele jogador dos amistosos da Seleção. Apagado, perdendo muito a bola e insistindo em jogadas individuais, ajudou
mais na defesa do que no ataque.
Gabriel Jesus: 4
» Inoperante. Não teve chances, mas também não procurou se livrar da marcação suíça. Saiu de campo reclamando de um suposto pênalti. Seu substituto fez mais. (Roberto Firmino: 6).
Neymar: 5
» Esforçado, mas egoísta. Rápido, mas sem força. Tem a desculpa de ainda estar se recuperando de cirurgia, mas esteve longe das boas atuações que o colocam como terceiro melhor do mundo.
Tite: 6
» Nitidamente nervoso, errou ao colocar a culpa na arbitragem pelo empate e ao fazer modificações pouco ousadas. Poderia ser mais criativo e ofensivo na hora das substituições.
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