Hemograma ajuda médicos a identificarem risco de câncer
(crédito: Rob Allen/Flickr)
A detecção precoce do câncer é essencial para o sucesso do tratamento, mas muitos pacientes descobrem a doença em estágios mais avançados, quando o arsenal terapêutico é mais limitado. Em um estudo com dados de 470 mil pessoas, pesquisadores da Universidade College London (UCL), no Reino Unido, descobriram que, combinada às queixas do paciente, a análise de 19 anomalias no exame de sangue comum pode ser um forte preditivo de tumor oncológico.
Na pesquisa, publicada na revista Plos Medicine, a equipe da cientista Meena Rafiq conta que usou informações de um banco de dados de saúde, o UK Clinical Practice Research Datalink, sobre pessoas acima de 30 anos que visitaram um clínico geral relatando dor ou inchaço abdominal. Esses sintomas podem estar associados a diversas condições, das mais simples, como constipação, até alguns tipos de câncer, como os de intestino e ovário.
O objetivo dos cientistas foi avaliar se um hemograma simples, de rotina, poderia ajudar o médico a direcionar os pacientes a exames mais sofisticados no caso de um conjunto de parâmetros anormais. "Muitos pacientes com câncer não diagnosticados se apresentam ao seu médico de atenção primária com sintomas não específicos, que podem ser resultado de várias outras causas benignas, dificultando a determinação de quem justifica testes diagnósticos adicionais ou encaminhamento", justifica Rafiq, pesquisadora do Centro de Epidemiologia do Câncer e Cuidados de Saúde da UCL. "Há orientação limitada sobre sintomas não específicos de um determinado câncer para orientar a avaliação da doença e as decisões de encaminhamento."
Indicativos
Dos 470 mil pacientes avaliados, 9 mil dos que relataram dor abdominal e 1 mil com inchaço foram diagnosticados, em um ano, com algum tipo de câncer. Os pesquisadores analisaram 19 resultados anormais nos exames de sangue coletados após a primeira consulta para ver se conseguiam prever quem tinha mais probabilidade de ter um tumor maligno.
Tanto em homens quanto em mulheres, de todas as faixas avaliadas, diversas anomalias sanguíneas mostraram-se indicativas do risco de câncer. Por exemplo, esse foi o caso de pacientes entre 30 anos e 59 anos com sintomas abdominais, anemia, baixa albumina, plaquetas elevadas, ferritina anormal e marcadores inflamatórios. Em pessoas com mais de 60 anos, apenas a presença de dor ou inchaço foi suficiente para justificar um encaminhamento para o oncologista.
O estudo mostrou quais tipos de câncer eram mais comuns com base na idade, sexo e anomalia detectada no exame de sangue. Entre mulheres com idades de 50 anos a 59 anos com anemia e inchaço abdominal, por exemplo, os tipos mais comuns foram os tumores de cólon e ovário.
No caso deste último, por exemplo, além de sintomas ginecológicos, há sinais que podem ser confundidos pelo paciente com doenças gastrointestinais. "As principais manifestações do câncer de ovário incluem desconforto e aumento do volume abdominal, dor pélvica, corrimento ou sangramento vaginal anormal, falta de apetite, alterações do hábito intestinal, vômitos, emagrecimento involuntário, tosse seca ou falta de ar", esclarece Solange Kuwamoto, oncologista e ginecologista do Instituto Paulista de Cancerologia. Segundo a médica, o tumor muitas vezes é diagnosticado já avançado, devido à falta de métodos de rastreio efetivos.
Diretrizes
É justamente para evitar que sintomas passem despercebidos, levando à detecção tardia, que Meena Rafiq defende o exame de sangue comum como ferramenta diagnóstica quando o paciente se consulta com o clínico geral. "Normalmente, as diretrizes se concentram predominantemente na presença de sintomas de alarme e no risco de câncer de um único órgão, com cada localização tendo diferentes investigações recomendadas", diz. "Usar exames de sangue existentes pode ser uma maneira eficaz e acessível de melhorar o diagnóstico precoce de câncer em pessoas que consultam seu clínico geral com sintomas vagos", diz.
O estudo publicado ontem soma-se a outra pesquisa, de 2020, da Universidade de Exeter, no Reino Unido. A equipe de Sarah Bailey, pesquisadora do Centro de Diagnóstico de Câncer da instituição, constatou que, em homens acima de 60 anos, a contagem muito elevada de plaquetas (325-400), mesmo na falta de sintomas mais evidentes, pode prever o risco de tumor de pulmão, próstata e cólon. "Uma contagem de plaquetas alta nem sempre significa que alguém está sofrendo de uma doença séria", esclarece Bailey. "Mas o marcador pode alertar os médicos do risco de câncer, dando a chance de o paciente ser encaminhado para investigações adicionais na primeira oportunidade."