Em Portugal há estranha hipocrisia, que leva a condenar todos, que tiveram a infelicidade de cair na desgraça.

Enquanto o político, o industrial, a figura pública, ocupa lugar de respeito, todos o bajula e admira.

Dizem alguns, com pontinha de inveja: “ É um grande homem! Subiu a pulso!”.

O Chefe do Estado apressa-se a cobri-lo de condecorações, a mass-media tece-lhe rasgados louvores, e o comum dos cidadãos rende-se ao dinheiro, afirmando: graças à “inteligência” e “saber”, tornou-se o orgulho da nação.

Mas, se por volte face, da fortuna, perde prestígio e dinheiro, os que o bajulavam, passam a descobrir-lhe defeitos. E os amigos, que se branqueavam na farta mesa, afastam-se, e declaram lastimosamente: “ Estávamos enganados ou enganaram-nos”.

Por vezes a “justiça”, da praça pública, é acompanhada pela judicial…

Descobre-se, então, o que há muito se conhecia ou suspeitava-se: cambalachos degradantes, mas que ninguém tinha coragem de os revelar.

Quem tem o pundonor de levantar a voz para dizer: crime!; quando o poderoso se encontra em cargo de relevo?

No Concilio de Trente, só o bom Arcebispo de Braga, teve coragem de censurar o comportamento dos cardeais, perante a estupefação de ilustres eclesiásticos e descendentes de honrados príncipes…

O que se passa em Portugal, ocorre, igualmente, na totalidade das nações.

A isso costumo chamar hipocrisia, para não apelidar de coisa pior.

Nas empresas, esse comportamento, verifica-se nos trabalhadores, lisonjeando o chefe, enquanto este se mantêm na graça da administração; uma vez retirado o tapete – como popularmente se diz, – escorrega e cai, e poucos são os que o defendem, a não ser correligionários, receosos de perder a proteção do camarada. Esse repugnante comportamento faz -me recordar a velha e relha história do leão moribundo:

Os animais da floresta visitam-no. Entre eles, o burro, que ao despedir-se, atira-lhe parelha de coices.

O leão quebrado, estertorante, exclama em voz dolorida:

- Também tu, reles animal! …

Quando o Rei Leão estava na pujança, todos o honravam e alegravam-se com sua companhia. Mas…

O Homem é o rei dos animais, mas é certamente o mais hipócrita.

NOÇÕES DE POLITICA - HUMBERTO PINHO DA SILVA