MODERNIDADES...
Nos derradeiros dias de verão, ainda com sol amigo, decidi abalar além Marão.
Instado por companheiro de infância, sai contrafeito do aconchego do lar – coisa rara, – e viajei comboianamente até a pequena Vila, agora cidade transmontana.
Recebeu-me de braços abertos com a tradicional franqueza tão característica da gente montesina.
Após me ter dito que já não se dorme de portas destrancadas, como outrora – que só se cerravam quando se pressentia gente estranha, acrescentou:
- Efeitos da globalização! E facilidade de transporte...
Depois, a prosa derivou para as corriqueiras novidades: casamentos, namoricos e...
- Já te contei que o meu Jorge está em Coimbra?
- Não sabia! O que faz o pequeno na cidade dos doutores?! - Perguntei curioso.
- Foi frequentar a Universidade...A propósito: vou-te contar uma muito boa: Não queria que fosse para uma república. Quarto a preço módico, é difícil. Então pensei alugar pequeno apartamento. Assim podia visitá-lo, sem pagar hotel...
- Fizeste bem.
- Mas, decorrida uma semana – prosseguiu, – aparece um homem, a fazer-me uma proposta. Era pai de menina que vai frequentar a Faculdade, e se estivesse de acordo, ela iria para o apartamento do rapaz. Rachava-se o aluguer. Até, me disse, que a rapariga podia ajudar... cozinhando alguma coisa.
- Concordaste?! - Perguntei estupefacto.
- Fiquei varado, mas acabei por concordar. Tinha sido colega do Jorge e é de boas famílias...; mas fiquei banzado. Qual era o pai, do nosso tempo, que deixava uma filha viver com adolescente, quase homem!... Se tivessem de apresentar IRS até podiam dizer que eram casados!... - União de Facto!...
A conversa discorreu para outro tema mais interessante, mas fiquei a matutar:
No meu tempo de rapaz só havia dois meios de formar família: casamento civil ou religioso; ou amancebarem-se, mas deste modo não havia regalias fiscais...nem eram reconhecidos oficialmente.
Enfim: mudam-se os tempos...assim como os costumes,e a Moral. Efeito da ausência de Deus e degradação da sociedade, que se diz cristã.