O PERIGO DE ESCREVER
O meu passatempo favorito, é escrever. Escrever: é, nem mais nem menos, conversar sem ser interrompido.
Mas escrever, ser articulista, ter opinião, não é fácil, mormente em épocas de liberdade…Em ditadura, os censores, cortam; em democracia, muitas vezes, desancam nas redes sociais…
Em 1994, era colaborador do: “O Correio do Ribatejo”. Numa das crónicas desabafei, a indignação e tristeza, porque, determinado leitor, não gostando do que escrevera, resolvera enviar-me carta, polvilhada de insultos. Carta anónima… Claro.
Poucas semanas depois, tive a boa e agradável surpresa, ao abrir: “O Correio do Ribatejo”, de 27/Julho/1994 deparar, em destaque, Carta Aberta, dirigida a minha pessoa, assinada pela leitora: Natalina Milhano Pintão:
“Li com emoção e misto de tristeza e admiração, a sua crónica, sobre:” O Perigo de Escrever”.
“ Creio não conhecer o homem, que, semanalmente, nos contempla com um pouco do seu “ pensar”, expresso em ideias profundas, simples e generosas, porque são humanas. Sou dos que gostam de ler, nas páginas de um jornal, além de notícias dos acontecimentos do dia-a-dia, da terra (mais ou menos engalanadas, consoante quem escreve ou manda escrever), artigos de opinião. Essa opinião, leva-me a refletir e comparar a minha opinião, com essa outra opinião.
“ A opinião é igual à minha? É diferente da minha? Não é isso que me ocupa, e muito menos me preocupa. O que eu quero, é pensar… usar a minha cabeça, porque “ cada cabeça sua sentença”, (eu acho que é democrático, e até se ensina nas Escolas: ter opinião responsável).
“ O que me interessa, isso interessa a valer, é saber que o que foi escrito, é verdade, ou pelo menos, a verdade do “ escritor”, sem intenções encapotadas, que expõe “, na praça pública” (como dizia sua avó), a sua opinião transparente.”
Seguem depois palavras amáveis, que não interessa transcrever.
Voltaire, perguntava, certa vez, a mademoiselle Quinout: “ Que ganhei eu em vinte anos de trabalho? Nada, a não ser inimigos. Tal é o preço que, quase sempre, deve esperar-se da cultura das letras: muito desprezo quando não se triunfa, muito ódio quando se triunfa”.
Sempre que o escritor publica livro de sucesso, logo se levantam vozes de inveja…até de amigos…
E a critica? Como atua?
“ A crítica, entre nós, é a impressão escrita sobre o joelho, com a pressa de quem vai salvar o pai, da forca; escrita por amizade, ou por antipatia; as nem sim nem sopas; a de ajuste de contas (agora é que ele vai saber de que força é o filho de meu pai!); a dos ciúmes recalcados… Cruz Malpique, “ Notícias de Guimarães”, de 4/10/91.
“ Em Portugal, há uma larga tradição de murmúrio. De inveja. De cobiça. E de Preguiça, também. Os valores, raramente são reconhecidos, e os mais inteligentes, constituem o repasto ideal para a calúnia” – Disse, e disse bem, Helena Sacadura Cabral, in: “ Diário de Notícias”, citado no: “O Dia” de 9/9/02.
Em Portugal, e em toda a parte…Salvo raras exceções, o homem são sempre o mesmo. O homem… e a mulher…