O QUE ESTÁ NA MODA: VINHO BRANCO OU TINTO?
Havia, na Rua de Santa Catarina, no Porto, importante armazém, que primava pela elegância e bom gosto.
A cafetaria era frequentada pelas senhoras da alta sociedade portuense, que ao fim da tarde, tomavam chá com torradas… Só que o bule de porcelana, continha vinho branco, em lugar do Ceilão, servido em finas e delicadas chávenas.
O estratagema servia, maravilhosamente, para quem deambulasse pela loja, não descobrisse que as tais senhoras, da “ boa” sociedade, bebiam vinho…
Ora, durante o almoço de beirões, que participei, um deles, contou o seguinte:
A mulher possuía quinta no Douro. A vinha era quase toda de uva preta, que vendia a cooperativa vinícola.
Após a Revolução de Abril, a direção da Cooperativa – como sucedeu a muitos, – foi tomada por revolucionários “ inteligentes”, que convocaram reunião extraordinária. Entre várias recomendações, aconselharam os sócios, arrancarem as cepas, que produziam uva preta, por branca.
Asseveravam, que: após Abril de 1974, os portugueses, mais evoluídos e enriquecidos, deixariam de beber o “ carrascão”, nas tabernas, e passariam a imitar os empresários e as “ madames”, e beberiam vinho branco, de preferência de boa qualidade.
Muitos agricultores, ingénuos, acreditaram, e começaram a tarefa de substituir as cepas.
Quem me contou, não o fez, segundo declarou, e fez bem, já que, presentemente, o tinto é mais preferido.
Até as senhoras, que outrora bebiam vinho branco, em chávenas, passaram a usar copos, que são enchidos com vinho tinto do Dão ou de óptimas cepas da Mealhada.
Dizem-me, agora, que se torna elegante, em São Paulo, oferecer vinho branco.
A ser verdade, creio que o é, se não for habilidade de vinícolas – para escoarem abundância de vinho branco, – a moda, pode ser semelhante, à que escutei, anos atrás, num almoço de amigos beirões, na cidade do Porto.
O gosto e a elegância, depende da moda, e a moda da publicidade, e dos interesses de minorias, que, dissimuladamente, influenciam a coletividade, de forma tão subtil, que, gostos e modos de pensar, se alteram, não porque queremos, mas porque eles querem.