O RECEIO DE OPINAR
Antes de me aposentar, prestei serviço em empresa, que possuía e possui, milhares de trabalhadores.
Convivi apenas com pouco mais de uma ou duas dezenas. Contudo admirava-me, que em épocas eleitorais, quando se perguntava a opinião sobre os candidatos, esquivavam-se, declarando receosos:
- “ Eu cá, voto na maioria, no que vai à frente, segundo a mass-media.”
Admirava-me da atónita resposta. Vivíamos, já em plena democracia, (seria?); e em democracia, cada qual, não se deve inibir de ter opinião. Hoje, compreendo – a idade dá-nos sabedoria, – que para vir à praça publica, e dizer, em letra de forma, o que se pensa, requer coragem – muita coragem.
Principalmente, para quem não possui protecção de poderoso, que acuda quando se é retaliado.
Eu sei, infelizmente, que muitas vezes, os dirigentes são escolhidos pelas suas ideologias, e que costumam beneficiar correligionários, e afastar os que não são da sua “ capela”. Eu sei…
Em Congresso de Sociologia, realizado em Coimbra, no início do século, o sociólogo, Manuel Villaverde Cabral, defendeu a tese: que dois terços dos inqueridos, num estudo realizado em Portugal, sentiam receio de exprimirem opinião sobre governantes.
Não é, portanto, de espantar, que humildes trabalhadores, não cobertos pelo “ guarda-chuva” do partido, sintam medo de serem marginalizados de futuras benesses, pelas suas ideologias.
Compreende-se, que quem vive do trabalho, ande com o “credo” na boca, para não sofrer represália, como eu sofri, por não ter cor politica.
O medo dos “poderosos”, é muito antigo. Desde tempos ancestrais, sempre houve receio dos dirigentes. Basta ler o Livro de Ester 8:17, para se verificar isso: “ Os povos da terra, se fizeram judeus; porque o temor dos judeus tinha caído sobre eles”
Esse “temor” fez que muitos monarquistas se rendessem à república e que acérrimos partidários do Estado-Novo, se refugiassem em partidos de esquerda.
Fizeram-se esquerdistas, do mesmo modo que no tempo de Ester se “ fizeram” judeus.
A frase do antigo Presidente do Município de Penalva do Castelo: “ Quem está com o Governo, come; quem não está cheira”, parece estar – e sempre estará, – actual. Aqui e em toda a parte.