O VELHO QUARTEL DE BRAGANÇA
Falar do antigo BC3, é falar dos militares, que passaram por esse improvisado quartel, defendido por rudimentar cerca de aramados, que o limitavam.
Resumia-se ao pavilhão do Comando. Edifício de reboco, pintado a branco, onde funcionava: a Secretaria e o Conselho Administrativo; e, mais alguns serviços, de menor importância.
Nele ficava o Gabinete do Comandante, que nesse tempo 1967 (?), era o Major Montanha – um homem bom.
Havia, ainda outros pavilhões, que serviam de: caserna, cozinha, refeitório e balneário.
Junto ao refeitório, foi criado, mais tarde, compartimento, onde funcionava a Escola Regimental; e onde os recrutas, que não alcançaram a terceira classe, tentavam obtê-la.
Um dia, jovem professor, que substituíra o Primeiro-sargento Mário, assentou, com alguns alunos, mais aplicados, prepará-los para concluir a quarta classe.
Era acontecimento inédito! …
Deu-se aulas de: Geografia, noções de História de Portugal, e Ciências.
O Professor Bi veio realizar os exames. Interrogou os examinados, com perguntas simples. Falou-se de: D. Afonso Henriques, D. Carlos, de Salazar, e outras figuras da nossa História, que o tempo varreu-me da memória.
Houve hesitações; houve titubeação; e muitos “ nervos”…Todos ficaram aprovados. Foi uma festa! … Uma explosão de júbilo! …
Um deles, mancebo alto e magro, natural da Madeira, exclamou eufórico:
-” Agora já posso concorrer para a Polícia! …”
Na sala da Escola, havia: mesas para os alunos, quadro de ardósia, vitrine com: pesos de ferro, metros de metal e medidas de madeira. Suspenso da parede estucada, um vistoso mapa de Portugal, envernizado.
O Padre Telmo vinha (uma vez por semana,) à sala de aula, fazer preleções sobre o Evangelho e doutrina cristã.
Tinha o BC3, como Comandante de Companhia, tenente, que era o terror dos soldados, e até dos cabos-milicianos. Era o Tenente Moscoso; mais tarde substituído pelo irmão de Artur Anselmo – não me recordo o nome, – oficial de carreira, e afável.
Os militares animavam a cidade e transmitiram-lhe, com sua juventude e irreverência, nova alma.
Alguns, que namoravam com brigantinas (quase todas de grande beleza, de grandes e belos olhos claros ou castanho profundo,) chegaram a casar… e foram, segundo se dizia, muito felizes.
Mais tarde, começaram a erguer, de raiz, quartel, de esplêndidas instalações, no mesmo local.
Um dia, revista militar, publicou texto, escrito em prosa poética e sentimental, sobre o BC3, acompanhado de fotografias. Foi um sucesso!; e muito comentado. O autor era antigo furriel, que passara à reserva.
Decorridos muitos anos – meio século (?) – certamente poucos se recordam do velhinho BC3, levantado no topo de colina, de terra barrenta, um pouco acima da Escola e da Estação Ferroviária.
É sempre bom recordar o passado; já que o passado, é a alma da cidade. Alma que se vai, pouco a pouco, transfigurando, com o progresso, e principalmente com a chegada de gente, com outros usos e outros costumes.