Planetas da TRAPPIST-1 são compostos 50% por água; e essa não é uma boa notícia
Liderado por Cayman Unterborn, da Universidade Estatal do Arizona, o estudo foi publicado nesta terça-feira (20), na revista Nature Astronomy. Na pesquisa, os cientistas examinaram as densidades de massa dos sete planetas do sistema TRAPPIST-1, a 40 anos-luz da Terra, para determinar a quantidade de água neles.
É importante citar que os astrônomos conseguem saber da existência de determinadas características de exoplanetas (fora do Sistema Solar) observando-os passar, em “trânsito”, na frente da estrela-mãe. Neste caso, a anã vermelha TRAPPIST-1.
Já se sabe que o tamanho de cada planeta é quase o mesmo que o da Terra, mas orbitam tão próximos da estrela quanto Mercúrio orbita o Sol.
Agora, os pesquisadores descobriram que dois dos planetas mais afastados, TRAPPIST-1f e g, provavelmente, são compostos por mais de 50% de água. Os planetas mais próximos, TRAPPIST-1b e c, são provavelmente mais áridos, mas ainda compostos poraté 15% de água.
Para se ter uma ideia, a massa da Terra é apenas 0,02% água.
Os astrônomos explicam que os planetas f e g foram, possivelmente, formados além da linha de neve (região para lá da qual o gelo pode se formar num sistema planetário). Depois, “migraram” para a zona habitável da estrela, onde a água em estado líquido pode existir. Já os planetas b e c se formaram, provavelmente, dentro da linha de neve.
“Acreditamos que, em comparação com os planetas do Sistema Solar, também formados dentro da linha de neve, TRAPPIST-1b e c contém centenas de oceanos“, escreveu a equipe no estudo.
Embora toda essa água possa parecer promissor para o surgimento da vida, os planetas podem ter alguns “problemas de umidade”, observa o site especializado em astronomia Space.
Segundo o portal, algumas teorias sugerem que um planeta inteiramente coberto de água, desprovido de qualquer terreno exposto, pode ter dificuldades para desenvolver a vida.
Há também alguns pontos de interrogação sobre as estruturas dos próprios planetas. TRAPPIST-1f, por exemplo, poderia ter uma faixa de água líquida que teria 200 quilômetros de profundidade, 20 vezes a da fossa das Marianas (o ponto mais profundo de qualquer oceano na Terra, com cerca de 10 quilômetros até o solo marítimo, onde pode haver vida).
Abaixo destes 200 quilômetros molhados, haveria uma camada de gelo. Abaixo desta, existiria uma camada de silicato de magnésio. Então, finalmente, se chegaria a um núcleo de ferro líquido. Esta composição não seria eficaz na regulação da temperatura do planeta através de processos geológicos.
“Planetas rochosos, com frações de massa de água maiores do que a nossa, podem não se comportar de forma geoquímica e geofisicamente semelhante à Terra“, escreveu a equipe.
“Sem terrenos expostos, os principais ciclos geoquímicos seriam paralisados, incluindo a retirada de carbono e fósforo da atmosfera para serem depositados nos reservatórios oceânicos (processo possível por causa do clima continental), limitando assim o tamanho da biosfera”, acrescentou.
Os cientistas afirmam ainda que, apesar de parecer habitável, dificilmente encontraremos vida nos planetas do sistema TRAPPIST-1. E essa também pode ser a realidade para outras estrelas anãs vermelhas. Mais que isso: já descobrimos que esse tipo de estrela também é capaz de “matar” seus planetas.
Entretanto, segundo o IFLScience, ainda não sabemos o quanto os terrenos expostos em meio aos oceanos da Terra foi importante para o surgimento da vida por aqui. Mas o estudo sugere que não devemos ficar tão empolgados com TRAPPIST-1 — ainda.