Política e Polícia

2 de julho de 2018 221

O revês na Lava Jato, com a soltura de presos políticos, inclusive com a possibilidade de libertação do próprio ex-presidente Lula para disputar novo mandato, revela que "o Brasil infelizmente corre o risco de voltar a ser  o País da impunidade, onde quem deveria cuidar da coisa pública são os seus principais predadores" ("Amargo retrocesso", Diário da Região, 29/6). O termo  grego "pólis", que corresponde ao latino "civitas" (cidade), deu origem aos substantivos política e polícia, bem como a nomes com esse prefixo (poligamia, polifonia, etc.). Eles contêm a noção de pluralidade, estabelecendo uma forte relação semântica com Democracia ou República, o governo da "res" (coisa) pública. Quer dizer, o homem (ou a  mulher) que adentrar o campo da política ou da polícia deveria estar preocupado com o bem da coletividade e não com interesses individuais ou de grupos.

            Mas, em países subdesenvolvidos, isso não acontece porque o instinto egoísta do ser humano faz prevalecer a lei do mais forte, própria da animalidade, levando ao abuso da força, do poder. O homem torna-se lobo do próprio homem, conforme a famosa afirmação do comediógrafo latino Plauto (254-184 a.C) "homo homini lupus", retomada pelo filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679). Para superar tal impasse , no seu livro "Leviatã", ele sustenta a tese da necessidade de uma autoridade estatal inquestionável à qual os membros da sociedade deveriam sacrificar suas liberdades individuais para assegurar a defesa comum. Mas a história nos mostra que Nações dominadas por um Leviatã, um soberano absoluto, tipo Stálin ou Hitler, tiveram péssimos resultados.

            Mais produtivo é o ensinamento de seu coetâneo e conterrâneo  John Lo, pois ela é confirmada pela realidade histórica. E contra fatos não há argumentos. Pouca gente sabe quem é o chefe do governo dos países mais desenvolvidos (Suécia, Noruega, Dinamarca, Austrália, Nova Zelândia...) porque tais nações são administradas por técnicos concursados, que não devem favores aos chefões políticos de plantão.

            O ser humano não nasce livre e civilizado. Tal se torna se e quando começar a pensar nas conseqüências de seus atos, não reconduzindo ao poder políticos desonestos ou incompetentes, não colocando no mundo filhos que não possa educar. O problema central é que as instituições, que deveriam  controlar a vida social policiando e castigando quem infringir as normas éticas, deixam muito a desejar. Os Ministros da Suprema Corte, preocupados em defender "a presunção de inocência" de corruptos condenados a dezenas de anos de prisão por apropriação indébita do dinheiro de nossos impostos, que deveria ser destinado a melhorar assistência médica, educação, transporte coletivo, segurança púbica, não se sensibilizam com o sofrimento de milhões de brasileiros que vivem na pobreza. A sociedade brasileira está lenta em tomar consciência de que ninguém pode ser feliz no meio da incoerência, da injustiça e da miséria, para dar mais valor ao bem público do que ao particular. Só nosso voto responsável poderá começar a mudar tudo o que está aí!

 

Salvatore D' Onofrio 
Dr. pela USP e Professor Titular pela UNESP 
Autor do Dicionário de Cultura Básica (Publit)
Literatura Ocidental e Forma e Sentido do Texto Literário (Ática)
Pensar é preciso e Pesquisando (Editorama)
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