POR BEM FAZER MAL HAVER

21 de dezembro de 2018 755

Na época da descolonização “ exemplar”, retornou a Portugal, na companhia da família, trabalhador, que imigrara para Angola. Por lá angariou sustento, amealhando um pouco para a velhice.

Com ele, além dos filhos e mulher, trazia apenas malote, com roupas e objetos pessoais, que conseguiu reunir, na pressa de fugir do racismo, que campeava, nesse tempo, em terras africanas.

Desembarcou em Lisboa, como muitos, que em desespero, abandonaram: emprego e bens. Após percorrer hotéis, apressadamente alugados, para acolher “ retornados”, assentou viajar para a cidade do Porto.

Ansioso, buscou emprego; implorou auxílio; e, quando pensava partir para o Brasil, deparou alguém, que, condoído com a triste situação, autorizou que se abrigasse em moradia, com largo terreno, que possuía nos arredores.

O homem agradeceu penhorado; declarando: ficar, para sempre, devedor do benfeitor, e tratou de cultivar o terreno e procurar trabalho.

O tempo passou… Passaram dois ou três anos…, e o dono da casa, que por caridade o acolhera, querendo desfazer-se da propriedade, procurou-o, para avisar a venda da área.

Foi recebido de mau modo; e ameaçado com revolver aperrado:

-” Fuja daqui!… Não respondo, se lhe meter bala no bucho!…”

Receoso, fugiu. Pediu conselho a advogado. Este, esclareceu: que seria difícil despeja-lo. O mais acertado era esperar tempos melhores, que sempre chegam…

Assim fez. O tempo tornou a passar…Entretanto, o benemérito, faleceu…

Decorrido quatro décadas, passei por lá. Havia novos arruamentos e prédios novos no terreno.

Desconheço a quem pertencem ou pertenciam; apenas sei: que por bem fazer, mal haver.

Se não tivesse coração piedoso, não teria arranjado trabalhos para a velhice…

Esta história verdadeira, lembra outra: e do menino que se condoeu de serpente enregelada, aquecendo-a ao peito. Recuperando os sentidos, mordeu o benfeitor.

É bem verdade, o dito popular:

 

POR BEM FAZER, MAL HAVER…”

NOÇÕES DE POLITICA - HUMBERTO PINHO DA SILVA