Prevent Senior recomendou tratamento paliativo para paciente com Covid-19 que não estava em estado terminal, indicam documentos

27 de setembro de 2021 57

Familiares de um paciente da Prevent Senior que teve Covid-19 acusam a operadora de recomendar a adoção de tratamento paliativo, que deveria ser oferecido apenas para pacientes incuráveis, para o advogado Tadeu Frederico de Andrade, de 65 anos, quando ele não estava em estado terminal.

Recuperado, Tadeu encaminhou na última sexta-feira (24) uma denúncia ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP). Entre os documentos enviados está um prontuário médico no qual uma médica da operadora orienta a suspensão de uma série de procedimentos, como medicação intravenosa e hemodiálise, e também pede que o paciente não seja submetido a manobra para reanimação cardiorrespiratória. Os familiares afirmam que o tratamento paliativo e a suspensão de cuidados foram adotados sem sua concordância.

Trecho do prontuário que suspende os medicamentos e tratamentos do paciente — Foto: Reprodução

Trecho do prontuário que suspende os medicamentos e tratamentos do paciente — Foto: Reprodução

Em entrevista à GloboNews, o paciente declarou que está totalmente recuperado, trabalhando e até dirigindo, "graças à Deus e graças à minha família que lutou por mim."

"Mas me entristece muito saber que muitas vidas se foram por um cálculo meramente financeiro da Prevent Senior", afirma Tadeu Frederico de Andrade.

O advogado ficou 120 dias internado em um hospital da rede em São Paulo após contrair coronavírus e receber da operadora o chamado kit Covid, um conjunto de remédios que inclui medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19.

Em nota, a Prevent Senior disse que a operadora não toma decisões com base em custos e que, no caso em questão, a empresa deu todo suporte ao paciente, acatando a vontade dos familiares.

Em meio à CPI da Covid-19 no Senado, o senador Otto Alencar declarou nesta segunda (27) que a comissão tem provas de que a operadora realizava "eutanásia disfarçada" em casos como os do paciente Tadeu de Andrade. A denúncia do paciente também foi encaminhada à CPI.

Otto Alencar: CPI tem provas de que Prevent Senior fez 'eutanásia disfarçada'

Otto Alencar: CPI tem provas de que Prevent Senior fez 'eutanásia disfarçada'

Secretaria da Saúde vai investigar operadora

O governador João Doria (PSDB) disse nesta sexta-feira (24) que pediu à Secretaria da Saúde uma investigação sobre a atuação da Prevent Senior durante a pandemia do coronavírus no estado de São Paulo.

"Já determinamos à Secretaria da Saúde que avance com uma fiscalização rigorosa em todos os procedimentos da Prevent Senior", disse o governador em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.

Meses atrás, a Secretaria Estadual da Saúde chegou a apurar os procedimentos de informação da causa da morte dos pacientes internados nos hospitais da Prevent Senior.

Doria foi questionado sobre o convite feito ao secretário Jean Gorinchteyn para depor na CPI da Covid-19, e disse que acha "até bom porque ele vai ajudar a esclarecer pontos importantes que têm sido debatidos e questionados".

Diretor confirma na CPI que Prevent mudava ficha de pacientes para retirar registro de Covid

Diretor confirma na CPI que Prevent mudava ficha de pacientes para retirar registro de Covid

Denúncias

No começo do ano, médicos denunciaram à GloboNews que a diretoria do plano de saúde Prevent Senior os obrigou a trabalhar infectados com Covid-19 e a receitar medicamentos sem eficácia para pacientes.

Depois disso, um dos médicos inclusive registrou um boletim de ocorrência em que relata ter sofrido ameaças do diretor-executivo da operadora de saúde, Pedro Benedito Batista Júnior.

Agora, a CPI da Covid-19 investiga um dossiê que aponta que a Prevent ocultou mortes em um estudo com hidroxicloroquina, remédio que não funciona contra Covid.

Os indícios da fraude aparecem em documentos e áudios e, segundo os documentos, houve pelo menos o dobro de mortes entre os pacientes tratados com cloroquina analisados pelo estudo.

Pedro Benedito Batista Júnior, diretor da Prevent Senior, durante depoimento à CPI — Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Pedro Benedito Batista Júnior, diretor da Prevent Senior, durante depoimento à CPI — Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

A suposta pesquisa seria um desdobramento de um acordo da operadora de planos de saúde com o governo federal, e teria resultado na disseminação do uso da cloroquina e de outros medicamentos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) já descartou o medicamento para esse tipo de tratamento.

A Prevent repudia as denúncias e afirma que "sempre atuou dentro dos parâmetros éticos e legais”. O diretor-executivo do plano de saúde, Pedro Batista Júnior, foi ouvido na CPI na quarta-feira (22) e afirmou que foram os pacientes que passaram a exigir a prescrição da cloroquina, mas confirmou que a operadora orientou médicos a modificarem, após algumas semanas de internação, o código de diagnóstico (CID) dos pacientes que deram entrada com Covid-19.

Além da CPI da Covid-19, no Congresso Nacional, a operadora é investigada pelo Ministério Público Federal, pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo e pela agência reguladora dos planos de saúde, a ANS.

Em São Paulo, o Ministério Público iniciou uma investigação ainda em março sobre a distribuição do "kit Covid" pela Prevent Senior. Neste mês, após novas denúncias, o MP criou uma força-tarefa, com quatro promotores: Everton Zanella, Fernando Pereira, Nelson dos Santos Pereira Júnior e Neudival Mascarenhas Filho.

O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mario Sarrubbo, disse nesta sexta-feira que os profissionais médicos e diretores da Prevent Senior poderão responder por crime contra a vida, caso fique comprovado o uso de tratamentos ineficazes contra a Covid-19 em pacientes da operadora.

Fonte: Por Guilherme Balza, GloboNews — São Paulo