QUANDO O TELEFONE TOCA…
A cada passo sou massacrado: ouço o telefone tilintar. Corro para atender. Do outro lado da linha, voz muito suave, muito tratada, muito gentil, surge: -”Venho oferecer-lhe um novo serviço; ou – “ Não pode contribuir para a nossa Instituição?”
Num almoço de amigos, falava-se de “pragas” – “pragas” modernas, do século XXI.
Então, o Gabriel, rapaz das arábias – rapaz do meu tempo, – saiu-se com esta, que é, certamente, pior que as sete pragas do Egipto.
Dia destas, retilintou o telemóvel (celular, como dizem nossos amigos brasileiros,) e escutou, lengalenga, impingindo-lhe novo serviço.
Como lhe disse, que não estava interessado, a simpática menina, perguntou-lhe, se não queria aumentar a velocidade da Internet. Respondeu-lhe: “ a que tenho chega”.
E por ai adiante, impingiu-lhe: filmes, documentários, desporto, programas para a infância…A tudo disse: que não.
Cansado, já pedia a todas as alminhas que o deixasse em paz… – “Mas…não gosta de televisão?” – perguntou-lhe voz levemente sensual.
Desesperado, ameaçou desligar. Invocou afazeres; apelou para a sua idade; mas nada. Tinha que comprar…fosse o que fosse. Irritado, desligou.
A desventura do Gabriel, não foi surpresa; alguns dos presentes, lamentaram terem atendido idênticas chamadas.
Outrora, não vai muitos anos, raras vezes telefonavam para solicitar contributos; agora, parece moda: pedir por tudo e por nada.
Raro dia, que não receba mensagens: de supermercados, lojas comerciais, até farmácias! …; oferecendo serviços e promoções! …
O telefone, que era aparelho utilíssimo, a ponto de não o podermos dispensar, passou a se “praga” que nos persegue, como sombra.
Com o velho terrim-terrim, ou com música pop, não param de nos incomodar, na: sala de aula, no hospital, na reunião familiar ou de negócios… até na igreja!
Quem parará este desvario?