Sem autorização no Brasil, vacinação contra a Covid-19 em crianças já é feita em cinco países

2 de outubro de 2021 374

Pfizer e a BioNTech anunciaram no último dia 20 que a vacina contra a Covid-19 produzida em parceria pelas duas farmacêuticas é segura e eficaz para crianças entre 5 e 11 anos. Em comunicado, elas informaram que uma dose menor do imunizante induziu resposta “robusta” nesta faixa etária. Outras empresas, como a Sinovac, fabricante da CoronaVac, a Sinopharm, a Moderna e a Bharat Biotech, da Covaxin, também já fazem testes da vacina para crianças e tiveram resultados positivos contra a Covid-19. Apesar de os menores serem menos vulneráveis à Covid-19, eles também estão suscetíveis a casos graves e internações pela doença. Até o momento, cinco países já aplicam o imunizante nesta faixa etária: China, Israel, Chile, Cuba e Emirados Árabes Unidos. Embora quase 3 bilhões de adultos já tenham sido imunizados no mundo, provando que as vacinas contra a Covid-19 são seguras e eficazes, esses resultados não são suficientes e não substituem a pesquisa necessária para a aplicação em crianças. De acordo com cientistas, seus corpos estão em desenvolvimento e reagem de maneira diferente, o que implica mais estudos para comprovação científica da eficácia e da segurança.

China foi o primeiro país do mundo a aprovar o uso de uma vacina contra a Covid-19 para crianças e adolescentes. Em junho, autorizou a aplicação da CoronaVac a partir dos 3 anos de idade. No Chile, a vacinação com CoronaVac está autorizada a partir dos 6 anos. Já no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) rejeitou, em junho, o pedido para incluir crianças a partir de 3 anos entre as pessoas que podem receber a vacina. Na ocasião, o órgão solicitou que fossem realizados mais estudos sobre a eficácia do imunizante. Para Marco Aurélio Sáfadi, presidente do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a CoronaVac tem características que a tornam atrativa para ser usada na população pediátrica. O especialista considera que já há novos dados que podem permitir que a Anvisa reavalie a decisão.

“Das vacinas que a gente está usando até agora, a CoronaVac é a que tem menos associação com evento adverso grave. Não tem nenhum até agora associado a ela de forma grave, o que para as crianças é muito importante. Não há dúvida que as vacinas que hoje estão sendo utilizadas têm uma análise de risco muito favorável. Elas trazem mais benefício do que prejuízo”, explica. “Paralelamente a isso, as crianças, de maneira geral, com uma dose menor da vacina, conseguem montar uma resposta imune muito eficiente. Elas atingem índices de eficácia muito altos, melhores do que os adultos. A CoronaVac tem uma efetividade inferior às outras, mas, para as crianças, isso não seria um problema porque ela propiciaria aquilo que elas precisam de uma forma muito segura”, completa. 

A infectologista Raquel Muarrek, da Rede D’or, avalia que a vacinação das crianças pode auxiliar a diminuir a taxa de transmissão do vírus. “Quanto mais gente vacinada e quanto mais precoce a vacina, mais chance de a gente ter uma queda de transmissão”, afirma. Segundo a especialista, as crianças, apesar de terem menor risco de casos graves ou internação, podem ser assintomáticas e transmitir o coronavírus para as pessoas mais velhas. “Toda vacina tem melhor resposta em quem tem o sistema imune adequado. Uma criança produz maior formação de resposta imunológica do que um adulto. Então, quando você vacina uma criança, ela diminui a transmissão para pessoas com fator de risco e imunidade mais baixa”, explica Muarrek. “Se temos a maior parte da população vacinada, a gente diminui internações, risco de gravidade e mortalidade. Porém, só vai diminuir a transmissão quando chegar acima de 85% da população vacinada como um todo”, completa.

Sáfadi, por outro lado, diz que os dados sobre a relação entre vacinas e a taxa de transmissão do vírus ainda são frágeis. “As vacinas têm demonstrado uma eficiência muito grande para prevenir as formas graves da doença, mas para prevenir infecção e transmissão elas não têm a mesma efetividade. Uma vacina como a CoronaVac, por exemplo, ainda não tem nenhum dado que demonstre que ela consegue impedir a transmissão. Ela consegue prevenir gravidade”, ressalta. “É possível que impacte na taxa de transmissão, seria um benefício adicional muito interessante, mas a gente precisa de mais dados para afirmar isso de maneira categórica.” 

Além de China e Chile, os Emirados Árabes Unidos anunciaram a aprovação da vacina Sinopharm para crianças acima de 3 anos em agosto. Em Israel, a vacina da Pfizer é aplicada apenas em menores com problemas de saúde, como doenças pulmonares crônicas graves, imunossupressão grave, transtornos de desenvolvimento neurológico, anemia falciforme, insuficiência cardíaca, hipertensão pulmonar e obesidade. As autoridades de saúde do país autorizaram a imunização para crianças a partir dos 5 anos, mas com doses três vezes menores do que o padrão.

Já em Cuba, as crianças de 2 anos ou mais estão sendo imunizadas com a Soberana 2, vacina desenvolvida na ilha. Os Estados Unidos também planejam iniciar a vacinação deste grupo em breve. O imunologista Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, disse nesta semana, em entrevista à rede MSNBC, que há “chance razoavelmente boa” de que a vacina esteja disponível para crianças ainda neste ano. No entanto, ainda é necessária aprovação do FDA, órgão federal que faz a análise de vacinas e medicamentos nos EUA. Scott Gottlieb, que integra o conselho diretor da Pfizer, afirmou à TV CBS que a farmacêutica deve enviar o pedido de aprovação no início de outubro. Nesta sexta-feira, 1º, a ministra da Saúde da Argentina, Carla Vizzotti, informou que o país vai iniciar a imunização de crianças de 3 a 11 anos com a chinesa Sinopharm, que recebeu aprovação da agência reguladora argentina para uso emergencial na população pediátrica. A estimativa é que de 5,5 milhões a 6 milhões de crianças sejam imunizadas em esquema de duas doses.

Fonte: JOVEM PAN