TODOS QUEREM SER RICOS….
Esta manhã, ao passar pela tabacaria de Centro Comercial, da Rua de Santa Catarina (Porto,) deparei com larga fila de clientes, que esperavam, pacientemente, para registarem o boletim, que os habilitaria – pelo menos assim esperavam, – ao fabuloso prémio do ”Euro milhões”.
Admiro-me que haja tantos candidatos a milionário…. Admiro-me, porque quase todos (assim penso,) dizem detestar os ricos…
Ao presenciar esse mar de gente, que procura, na sorte, tornar-se milionário, lembrei-me da curiosa historieta, narrada, em verso, por Sá de Miranda:
Em carta, a seu irmão Mem de Sá, o nosso clássico, conta a história de dois ratinhos: um vive, com fartura, na cidade; outro, modestamente, no campo.
O rato da cidade, certa vez, foi passear pelo campo, mas distraiu-se, e fez-se noite.
Receoso de regressar, na escuridão, resolveu pedir abrigo a ratinho pobre, que vivia na aldeia.
O ratinho deu-lhe guarita e comida, e após parca ceia, foram aquecer-se, à lareira
O rato da cidade, contou-lhe, que lá na sua casa, havia: comida em abundância, de boa qualidade, e também boa cama.
Como recompensa da hospitalidade, convidou-o a ir visitá-lo.
O ratinho aceitou a gentileza. Comeu do bom e do melhor, e adormeceu, sobre felpudo e fofo tapete.
Mas, por sua desdita, os criados e os cães, da casa viram-no…
O pobre ratinho não teve outro remédio, se não fugir à Vila Diogo, para o buraquinho, dizendo amargurado para o anfitrião:
Minha segura pobreza,
Se chegarei a ver quando
A vos torne? E esta riqueza,
Mal que tanto o mundo preza,
Fuja (se poder) voando?
Ai baldias esperanças!
Que al temos das abastanças?
La guardai vossas mostranças,
Deus me torne ao meu buraco!
Carta VII; a Mem de Sá. In: “ Poesias”
Lelo- Porto – 1928
Mais vale pobreza, com paz e consciência limpa, que riqueza, sem sossego, alma escurecida, e pesados de remorsos…
A verdadeira felicidade e riqueza, resume-se nisso: levar vida simples, e sentir-se feliz com o que se tem…