Tomando forma
Nem Lula nem seu candidato a vice, Fernando Haddad, estarão hoje no debate da Band. Ruim para Lula, que até recorreu ao TRF-4 pedindo o direito de comparecer ou ser representado. Pior, talvez, para Geraldo Alckmin, que não poderá bater no PT. Ao centrar fogo em Jair Bolsonaro, dará início precoce à luta sangrenta que travarão em torno de uma das vagas no segundo turno, no pressuposto óbvio que não haverá lugar para dois candidatos de direita. A outra vaga, segundo a maioria dos pesquisadores, será da esquerda, possivelmente de Lula-Haddad.
A pesquisa CNT-MDA publicada ontem trouxe notícias ruins para o tucano. Realizada apenas em sua fortaleza eleitoral (e capital do antipetismo), o estado de São Paulo, a pesquisa mostrou que ali também Lula lidera, com 21,8%, seguido por Bolsonaro, com 18,4%, e depois por Alckmin, com 14,0%. No cenário sem Lula, Bolsonaro lidera com 18,9%, seguido por Alckmin (15,0%), Marina (8,4%) e Haddad (8,3%). O que o Centrão vendeu ao candidato do PSDB foi o maior tempo de televisão; votos mesmo, ele terá que buscar, quando o horário eleitoral começar e o eleitorado finalmente se ligar na curta campanha. Em muitos estados, líderes do Centrão estarão aliados a candidatos ligados ao PT, a Bolsonaro ou a Ciro Gomes.
Assim, ainda que preferisse dar combate ao PT, o primeiro desafio de Alckmin é recuperar os votos perdidos para o capitão da extrema-direita. Eram do tucanato, e não do lulismo, os votos que Bolsonaro ganhou entre os eleitores paulistas. Se conseguir derrubá-lo, pensa o tucano, no segundo turno cuidará do PT. Assim, no debate de hoje, devemos ter uma prévia da luta sangrenta entre os dois candidatos da direita. Um, muito insípido. O outro, muito áspero e obtuso.
O PT, é claro, prefere enfrentar Bolsonaro no segundo turno. Por isso, no primeiro, voltará seu fogo mais alto contra o tucano, seu mais provável contendor na rodada final. E aí teríamos, mais uma vez, a velha polarização PT-PSDB, mas com uma diferença nesta possível quinta refrega: dessa vez haveria uma extrema-direita que se aglutinou em torno de Jair Bolsonaro e que, ressentida com sua derrota, votaria maciçamente no oponente do petista ou do candidato de esquerda que for ao segundo turno, seja qual for o seu nome.
Voto útil mais interessante, porém, seria o produzido por um segundo turno entre Bolsonaro e o candidato do PT. Tucanos e troianos em geral, seriam compelidos a sufragar o nome de Haddad para evitar o “coisa ruim”. Alguns constrangidamente. Outros muito à vontade, como os do Centrão, que eram da base de Dilma até o momento em que resolveram traí-la, votando a favor do impeachment em troca de lugares no governo Temer.
Além do primeiro duelo entre Alckmin e Bolsonaro, devemos assistir hoje ao esforço de Ciro para se manter na disputa, tentando ganhar votos à esquerda e ao centro, bem como o de Marina e dos demais para se firmarem como alternativas ao já conhecido. Mas o bicho que vai tomando forma atende pelo nome de “mais do mesmo”.
Muito saliente
Alguém precisa dizer a Manuela DÁvila que se ela não contiver seu ímpeto afirmativo como vice “de fato” da chapa petista, acabará estragando o jogo. O lugar dela está garantido, seja com Lula ou com Haddad na cabeça. Não precisa ficar dizendo que irá morar no Jaburu.
Ser e parecer
Os ministros do STF que aprovaram ontem um aumento de 16,38% em seus salários, para 2019, vão apanhar muito. Vai se dizer que aquela corte branca tira dinheiro da saúde e da educação para colocar no bolso quando, em verdade, a proposta não aumenta o orçamento do Judiciário. O cobertor seria esticado ali dentro mesmo, tirando de outras áreas. Mas quando a crise fiscal sacrifica todos os serviços públicos e o vermelho das contas prejudica a retomada do crescimento, e logo, a volta dos empregos, o exemplo que vem do Supremo é nefasto. A repercussão sobre os gastos com pessoal em outras áreas será enorme, aumentando a potência da bomba fiscal que o futuro presidente herdará.
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A POLITICA COMO ELA é (POR : TEREZA CRUVINEL)
Tereza Cruvinel atua no jornalismo político desde 1980, com passagem por diferentes veículos. Entre 1986 e 2007, assinou a coluna “Panorama Político”, no Jornal O Globo, e foi comentarista da Globonews. Implantou a Empresa Brasil de Comunicação - EBC - e seu principal canal público, a TV Brasil, presidindo-a no período de 2007 a 2011. Encerrou o mandato e retornou ao colunismo político no Correio Braziliense (2012-2014). Atualmente, é comentarista da RedeTV e agora colunista associada ao Brasil 247; E colaboradora do site www.quenoticias.com.br