Trump reconhecerá nesta quarta-feira Jerusalém como capital de Israel

6 de dezembro de 2017 599

Donald Trump reconhecerá nesta quarta-feira Jerusalém como capital de Israel, rompendo com décadas de diplomacia americana e internacional, apesar das advertências feitas em todo o mundo contra o risco de uma explosão de violência.

O papa Francisco, as Nações Unidas, a China e o Reino Unido se somaram nesta quarta-feira ao coro de preocupações, enquanto que o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu preferiu até o momento evitar qualquer menção à questão.

"Não posso calar minha profunda preocupação com a situação criada nos últimos dias sobre Jerusalém", declarou o pontífice durante sua audiência semanal.

"Faço um apelo desesperado para que todos se comprometam a respeitar o status quo da cidade, em conformidade às resoluções pertinentes das Nações Unidas", completou.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou em diversas oportunidades que "devemos ser muito prudentes com o que fazemos".

"O futuro de Jerusalém é algo que deve ser negociado com Israel e o palestinos em negociações diretas, um ao lado do outro", disse o enviado especial da ONU ao Oriente Médio, Mladenov em uma entrevista coletiva em Jerusalém.

A China manifestou sua preocupação com o projeto do presidente americano, que pode provocar uma escalada na região.

"Todas as partes envolvidas devem levar em conta a paz e a estabilidade regional, serem prudentes em suas ações, evitar minar as bases de uma resolução da questão palestina e se abster de engendrar uma nova confrontação na região", declarou o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Geng Shuang.

AFP / John SAEKIJerusalém

"Seguimos com preocupação as informações que ouvimos porque pensamos que Jerusalém deveria, evidentemente, ser parte de uma solução definitiva ao conflito entre israelenses e palestinos, uma solução negociada", afirmou o ministro britânico das Relaciones Exteriores Boris Johnson, em Bruxelas, antes de uma reunião da Otan.

"Nós não temos a intenção de transferir nossa embaixada", acrescentou.

- Golpe fatal à paz -

Na terça-feira, Trump confirmou sua intenção de transferir a embaixada americana para Jerusalém, mesmo com o risco de a medida provocar um mal-estar no Oriente Médio e prejudicar os esforços de paz entre israelenses e palestinos.

Trump fará um anúncio formal nesta quarta sobre a posição de seu governo sobre o estatuto de Jerusalém, segundo informou a porta-voz da Casa Branca Sarah Sanders.

"Trump fará amanhã (quarta-feira) uma declaração", disse a porta-voz.

Washington poderá reconhecer Jerusalém como capital de Israel e com isso transferir sua embaixada, atualmente em Tel Aviv.

Mais cedo, durante uma série de telefonemas diplomáticos, Trump informou ao líder palestino, Mahmud Abbas, e ao rei da Jordânia, Abdullah II, que o projeto profundamente polêmico que representa o reconhecimento americano de Jerusalém como capital de Israel avançava, embora não tivesse uma data para concluí-lo.

O estatuto de Jerusalém é um tema-chave no conflito israelense-palestino, e ambas as partes reivindicam a cidade como sua capital.

A notícia sobre a intenção de Trump gerou reações de repúdio na comunidade árabe.

A Liga Árabe pediu que Washington reconsidere sua decisão, enquanto o rei Salman, da Arábia Saudita, aliado dos Estados Unidos na região, advertiu que a mudança poderia desatar "a ira dos muçulmanos em todo o mundo".

O presidente americano conversou com o rei Salman e o presidente egípcio, Abdel Fattah Al-Sisi. Ambos advertiram-no a não avançar na mudança de embaixada.

Mais cedo, as advertências já tinham se multiplicado. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse a Trump que o estatuto de Jerusalém é uma "linha vermelha para os muçulmanos" e ameaçou cortar os laços diplomáticos da Turquia com Israel.

O secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abul Gheit, expressou que os membros da entidade decidiram se reunir no Cairo diante do "perigo desta questão e suas possíveis consequências negativas não só para a situação da Palestina, mas também na região árabe e islâmica".

As mesmas palavras foram usadas pelo líder do movimento islâmico palestino Hamas, Ismail Haniyeh, para quem "o reconhecimento da administração americana de Jerusalém ocupada como a capital da ocupação e a transferência da embaixada para Jerusalém ultrapassam todas as linhas vermelhas".

Em carta enviada a dirigentes árabes e muçulmanos, o movimento islâmico convocou os palestinos dos Territórios a se manifestarem na sexta-feira, proclamando, segundo uma expressão já consagrada, um "dia de cólera".

A transferência da embaixada de Tel Aviv para Jerusalém foi uma das principais promessas de campanha de Trump.

"O presidente foi claro: não é uma questão de 'se', mas uma questão de 'quando'. Mas não será adotada nenhuma decisão hoje", disse na segunda-feira o porta-voz da Casa Branca Hogan Gidley.