“Um tiro no pé” do governo Lula

6 de março de 2025 44

Presidente do Banco Central durante os primeiros anos do Plano Real, o economista Gustavo Loyola avisou que o governo Lula (à direita na foto) está “dando um tiro no pé” ao encomendar para 2026 “uma inflação ainda alta e juros altos”.

Em entrevista a O Globo, o sócio da Tendências Consultoria disse que a inflação preocupa e que “o governo está agindo na direção contrária à do BC”.

“Na medida em que o governo toma medidas fiscais e creditícias que incentivam a demanda, acaba anulando parte do esforço do BC”, disse Loyola, que esteve à frente do BC de 1992 a 1993 e de 1995 a 1997.

“BC virou um cavaleiro solitário”

Segundo o economista, “como não existe uma política fiscal vista pelos analistas como consistente com as necessidades do endividamento público, isso afeta a cotação do real, que se mantém desvalorizado, e exerce pressão altista sobre os preços”.

“É uma situação que preocupa na medida em que o BC virou um cavaleiro solitário lutando contra a inflação”, constatou Loyola.

O economista criticou a liberação de FGTS de 12 bilhões de reais: “Isso é injeção na demanda. Medidas de crédito que o governo está dando, através de programas, como [reformulação] do consignado privado. O BC faz tudo para reduzir a demanda, o crédito, e vem o governo com uma medida contrária àquilo que o BC está buscando”.

“Tiro no pé”

Segundo Loyola, “o governo está encomendando para o ano que vem uma inflação ainda alta e juros altos“. “Ou seja, dando um tiro no pé. Isso tem lembrado muito o fim do primeiro mandato da presidente Dilma [Rousseff], em que ela fez de tudo para tentar segurar a inflação artificialmente”, completou.

O Antagonista já vem alertando que o governo abandonou Gabriel Galípolo, presidente do BC indicado por Lula, na fronteira contra a inflação.

Após o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC dizer, em ata publicada em 4 de fevereiro, que “a desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê e deve ser combatida”, Lula disse que a alta nos preços está “razoavelmente controlada” e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a inflação brasileira esta em nível normal.

“É para estar preocupado”

Para Loyola, “esse tipo de declaração é inoportuna”.

“Primeiro, você está normalizando um nível de inflação que é muito alto. Segundo, hoje, ele fala que 5% é normal. Amanhã, 6%. Depois, 7% e foi assim que o Brasil chegou onde chegou antes do Plano Real”, comentou o ex-presidente do BC.

“Não é para ficar confortável com 5% de inflação. É para estar preocupado e buscando reduzi-la a patamares internacionais, entre 2% e 3%. O ministro talvez tenha cometido esse erro porque quisesse tirar um pouco do sentimento de apavoramento, de crise imediata, que de fato não existe”, finalizou Loyola.

Fonte: REDAÇÃO O ANTAGONISTA