VIVER NÃO CUSTA…
Meses depois de ter casado, na Igreja, fui viver para andar de prédio, que ficava nos subúrbios da minha cidade.
No rés-do-chão, vivia casal de idosos, que tinham o provinciano costume de, em dias quentes de verão, passarem o serão, sentados no passeio contíguo ao prédio.
Isso incomodava-me, tanto mais, que, sempre que passava, metiam conversa. Quase sempre lamentando-se da carestia da vida, e das parcas pensões, que recebiam
Certa ocasião foram passar férias a Viseu. O homem sentiu-se mal, e teve que regressar de ambulância.
Por camaradagem e bom relacionamento, com a vizinhança, resolvi visitá-lo.
Encaminharam-me para o quarto, onde o doente se encontrava deitado, sobre colcha de fustão, que cobria o leito, em troco nu.
Depois de agradecer a visita inesperada, a conversa descambou para as fracas reformas, que mal dão para sobreviver, num país, que quer ser do primeiro mundo.
Como lhe dissesse que as pensões mínimas tinham subido, esclareceu-me:
- “Fui chamado para ser aumentado, mas não aceitei…”
Fiquei banzado; mas logo me esclareceu:
- “Tenho vantagem em não ter aumento…Como recebo pouquinho, e a reforma de minha esposa, não chega ao salário mínimo, podemos ter muitos descontos…”
-“Sim!?” – Respondi, não atinando onde queria chegar.
-“Vou de férias e fico em bons hotéis, quase de graça. Passo as tardes no lar, gratuitamente, e ainda merendo…; minha filha estudou de graça, em bons colégios…Se sou aumentado… perco regalias…”
Soube, mais tarde, que oferecera uma moradia, à filha, quando casou. Tem terras na aldeia; e é sócio de pequeno comércio, no centro da cidade…Quando era jovem fora proprietário de armazém de produtos de limpeza, que passara, por motivo de doença…
Viver não custa. O que custa é saber viver…