A confraria do assédio sexual em Rondônia – Parte I
Imagem: http://entreriosahora.com
Porto Velho, RO – O aroma de café permeia o ambiente dos fundos à entrada; o sobressalente, claro, se esvai pela porta dianteira e acaba atingindo fatalmente o olfato de quem transita lá e cá pela calçada.
É inevitável a hesitação!
Os que são abalroados precisam de um tempo mínimo para decidir se continuam o trajeto ignorando a provocação dos desejos internos ou se cedem à pressão da flagrância fumegante.
É tentador, não há dúvidas. Isso, por si só, e levando em conta a minha métrica particular de aferição de prazeres – seria o suficiente a me compelir.
Eu entraria.
Além disso, a visão também é debitada na conta de sentidos instigados. Ainda na parte externa é possível enxergar pela vidraça um mundo de possibilidades ilustrado em prateleiras recheadas de livros.
Pessoas de todos os tipos e lugares, idades e concepções, se distribuem sozinhas ou em grupos para absorver e/ou proliferar conhecimentos, disseminar e se contaminar com sapiência.
Ao descrever esse cenário me sinto assediado pela composição imaginária, que, na minha concepção de paz interior, se assemelha ao paraíso.
Assediado. É irônico e até curioso pensar como os vários significados de um único vocábulo podem quebrar devaneios utópicos em questão de segundos, colocando a visão inocente dos que ainda aguardam por humanidade em xeque.
Em que realidade paralela essa composição sútil, leve, graciosa e fleumática daria lugar a um palco de deliberações bizarras – com a mesmíssima ornamentação – travadas em conversas públicas e desconcertantes sobre a sexualidade de uma moça de apenas 15 anos? Respondo: aqui mesmo em Porto Velho, Rondônia, onde descaradamente instalou-se o que passei a chamar de confraria do assédio. E tomo aqui a liberdade de apontá-lo a cada menção neste e nos próximos artigos com as devidas iniciais minúsculas, pois, da mesma forma, o são seus componentes.
Sejamos sinceros. A coisa só ganhou corpo por causa do desabafo do desembargador; fosse o manifesto sem credenciais do cidadão Isaias Fonseca Moraes, convenhamos, a situação não teria a mesma amplitude. Ele não é culpado por isso. Nós todos somos.
Construímos coletivamente os degraus da escadaria de importância social quando resolvemos consciente ou inconscientemente, não importa, encher de microfones as bocas das autoridades enquanto quebramos a pedradas os holofotes que costumavam pairar já com série de curtos-circuitos sobre as cabeças do proletariado.
Por outro lado, a honradez do magistrado ao reconhecer o erro por omissão e silêncio no episódio é um verdadeiro alento a todas as mulheres violentadas no Brasil. Não adianta fazer campanhas, conceder entrevistas nem empunhar plaquetas publicitárias se na hora de encarar a violência de frente, seja ela qual for, a negligência e o acovardamento falarem mais alto.
O cidadão Isaias Fonseca, não o desembargador, compreendeu em tempo hábil as distorções que o levaram ao erro – assentando um novo e resistente tijolo no alicerce de suas próprias desconstruções. Foi o primeiro e mais significativo golpe na estrutura sólida da confraria do assédio.
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POR: VINICIUS CANOVA