A confraria do assédio sexual em Rondônia – Parte I

3 de maio de 2018 860

A confraria do assédio sexual em Rondônia â?? Parte I

Imagem: http://entreriosahora.com

Porto Velho, RO – O aroma de café permeia o ambiente dos fundos à entrada; o sobressalente, claro, se esvai pela porta dianteira e acaba atingindo fatalmente o olfato de quem transita lá e cá pela calçada.

É inevitável a hesitação!

Os que são abalroados precisam de um tempo mínimo para decidir se continuam o trajeto ignorando a provocação dos desejos internos ou se cedem à pressão da flagrância fumegante.  

É tentador, não há dúvidas. Isso, por si só, e levando em conta a minha métrica particular de aferição de prazeres – seria o suficiente a me compelir.

Eu entraria.

Além disso, a visão também é debitada na conta de sentidos instigados. Ainda na parte externa é possível enxergar pela vidraça um mundo de possibilidades ilustrado em prateleiras recheadas de livros.

Pessoas de todos os tipos e lugares, idades e concepções, se distribuem sozinhas ou em grupos para absorver e/ou proliferar conhecimentos, disseminar e se contaminar com sapiência.

Ao descrever esse cenário me sinto assediado pela composição imaginária, que, na minha concepção de paz interior, se assemelha ao paraíso.

Assediado. É irônico e até curioso pensar como os vários significados de um único vocábulo podem quebrar devaneios utópicos em questão de segundos, colocando a visão inocente dos que ainda aguardam por humanidade em xeque.

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Em que realidade paralela essa composição sútil, leve, graciosa e fleumática daria lugar a um palco de deliberações bizarras – com a mesmíssima ornamentação – travadas em conversas públicas e desconcertantes sobre a sexualidade de uma moça de apenas 15 anos? Respondo: aqui mesmo em Porto Velho, Rondônia, onde descaradamente instalou-se o que passei a chamar de confraria do assédio. E tomo aqui a liberdade de apontá-lo a cada menção neste e nos próximos artigos com as devidas iniciais minúsculas, pois, da mesma forma, o são seus componentes.

Sejamos sinceros. A coisa só ganhou corpo por causa do desabafo do desembargador; fosse o manifesto sem credenciais do cidadão Isaias Fonseca Moraes, convenhamos, a situação não teria a mesma amplitude. Ele não é culpado por isso. Nós todos somos.

ENTENDA
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Construímos coletivamente os degraus da escadaria de importância social quando resolvemos consciente ou inconscientemente, não importa, encher de microfones as bocas das autoridades enquanto quebramos a pedradas os holofotes que costumavam pairar já com série de curtos-circuitos sobre as cabeças do proletariado.

Por outro lado, a honradez do magistrado ao reconhecer o erro por omissão e silêncio no episódio é um verdadeiro alento a todas as mulheres violentadas no Brasil. Não adianta fazer campanhas, conceder entrevistas nem empunhar plaquetas publicitárias se na hora de encarar a violência de frente, seja ela qual for, a negligência e o acovardamento falarem mais alto.

O cidadão Isaias Fonseca, não o desembargador, compreendeu em tempo hábil as distorções que o levaram ao erro – assentando um novo e resistente tijolo no alicerce de suas próprias desconstruções.  Foi o primeiro e mais significativo golpe na estrutura sólida da confraria do assédio.

VISÃO PERIFÉRICA

POR: VINICIUS CANOVA