A tragédia da vacina
A Covid é uma catástrofe? Claro que é quando se vê o que acontece na Índia, no Peru, na África do Sul e no México, talvez, na Argentina ou na Indonésia. Não no Brasil, como artificialmente se propaga, embora a questão seja grave, mas, dentro dos limites esperados. Sim a Covid está se tornando uma tragédia global, uma catástrofe de proporções imensas. E também é verdade que todos os países estão despreparados para epidemias similares. É a amarga verdade. Não sabemos os chineses-onde não há nenhuma transparência- mas a catástrofe que o mundo está sofrendo com a covid mostra que o mundo ocidental é muito mais despreparado e desigual do que se pensava. São os mais pobres as grandes vitimas de toda esta tragédia seja em que país for. E, em muitos deles, a falta de preparo, em especial político, acrescentou aos problemas da doença o peso das medidas restritivas que aumentaram enormemente a pobreza.
Também, não se pode esconder a realidade- é que os países mais pobres não têm como obter vacinas. E, sem vacinas, é previsível que venham uma segunda e uma terceira onda. É o que ocorre na Índia, por exemplo, ou no México. Estes países, seus governos, podem ter cometidos muitos erros, porém, há uma realidade inescapável, que é a de que nenhum governante é Deus. Não podem; ninguém sabe como impedir a morte. E a epidemia leva uma quantidade previsível de pessoas, independente das medidas tomadas, dependendo das condições e do sucesso de políticas públicas, o que depende também do grau de educação da população. E, em casos como o do México, com centros populacionais muito densos, o vírus tende a se espalhar com mais rapidez. No entanto, há um fator mais danoso ainda: os países mais pobres não têm como obter vacinas. Por quê? Aqui entra em cena os interesses financeiros dos países mais desenvolvidos que, certamente, causarão milhões de mortes. É de conhecimento público que o Canadá e os Estados Unidos bloquearam as renúncias de direitos de drogas na OMC para vacinas do covid. Isto limita em muito a produção que, se o código fosse aberto, poderiam ser produzidas em muitos locais. De fato, entregaram quase um monopólio para o Serum Institute of India, um grande produtor que pode abastecer cerca de metade do globo, ou seja, algo como 4 bilhões de pessoas. Há toda uma história complicada em torno disto, mas, o fato é que metade do mundo espera vacinas de um instituto na Índia. É de espantar que não existam vacinas suficientes? Grande parte dos contratos que foram feitos, no mundo inteiro, são promessas de vacinas. E, com no estágio em que se encontra a Índia, que não tem doses nem para eles mesmo, o que se pode esperar? A verdadeira tragédia é que se não há vacinas suficientes se deve ao bloqueio do acesso às patentes de vacinas na OMC, que,em nome das grandes empresas farmacêuticas, criou a escassez de vacinas. Onde o bom velhinho Joe Biden ou Justin Trudeau e tantos outros “bons” dirigentes entram nisto? Estes bons homens sabem do que acontece e fazem de conta que não é problema deles. Talvez por egoísmo, que aliás pode custar caro com um mundo tão interconectado, mas, nada fazem para vacinar o mundo que seria a atitude decente a ser feita. Afinal quanto mais tempo se leva mais são as chances de novas variantes, novas mutações, que se espalharão, o que poderá tornar a pandemia incontrolável. Falam sempre mal do capitalismo. Mas, o capitalismo é feito pelos homens. Não foi o capitalismo que privatizou um bem público. Em outras palavras, os países pobres estão pagando pelas vacinas preços muito mais altos do que os ricos e, muito mais ainda, em termos de vida. As vacinas, originalmente, foram bens públicos, criados para serem compartilhados, porém, agora o mundo não está recebendo vacinas porque transformaram a pandemia num negócio. E, não se enganem, esta situação é fruto de um conluio de governantes de países desenvolvidos com os detentores de grandes fortunas. Não se enganem há muitas fortunas sendo feitas com o infortúnio de milhões de pessoas. E aqui, no Brasil, estas vergonhosas medidas restritivas são também provenientes de interesses políticos e financeiros escusos. A tragédia do coronavírus não veio sozinha.
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A POLITICA VISTA POR UM POETA ( SILVIO PERSIVO
Colaborador do quenoticias.com.br, Silvio Persivo é Economista com Doutorado em Desenvolvimento Sustentável pelo NAEA, escritor, poeta e professor de Economia Internacional e Planejamento Estratégico da UNIR. E-mail: silvio.persivo@gmail.com