A verdade não rende dividendos. Nem votos

18 de novembro de 2025 48

- Winston, se eu fosse casada com você, colocaria veneno em seu café! - Nancy, se você fosse minha mulher, eu o beberia!

Embora hilário e muito adequado às características conhecidas dos personagens desse diálogo, não consta que de fato ele tenha ocorrido. Nancy Astor, primeira mulher eleita para o parlamento britânico, e Winston Churchill, festejado e polêmico primeiro ministro, foram exaustivamente explorados pelo anedotário político do velho continente, da mesma forma que inúmeras outras personalidades, em função de fama e méritos acumulados ao longo da existência.

São as chamadas “mentirinhas inocentes”, geralmente exploradas nas tribunas por quem adota grandes mentiras como plataforma política. As tais fake news, tão ao gosto das redes sociais. É por elas que mentiras úteis substituem verdades incômodas na busca de projeção eleitoral. Embora transitórias e fugazes, elas mantêm os autores em evidência. Desmascaradas, são esquecidas e rapidamente substituídas. Por isso é que sobrevive politicamente gente que posa de intelectual, mas confunde “O Príncipe”, de Maquiavel, com “O Pequeno Príncipe”, de Saint-Exupéry.

É extremamente difícil o combate à disseminação de mentiras na internet, tarefa que deveria ser de responsabilidade da imprensa, embora diversos fatores estimulem a adesão, até porque é comprovadamente lucrativa, como se observa com a proliferação de sites “informativos” em Porto Velho. Poucos se atrevem, como o “Gente de Opinião”, a manter, como princípio editorial, a cuidadosa seleção de seus inúmeros colaboradores pelo critério de seriedade. A ponto de obter o reconhecimento, nesse sentido, daquela parcela de público mais exigente, que consulta o portal como referência para aquilatar a veracidade da notícia.

Felizmente não é o único, nem possui a prerrogativa de estar integralmente infenso. Mas seu faturamento é limitado por sua opção editorial pela verdade. Isso porque, como atesta o filósofo americano David Livingstone Smith, o ser humano é mentiroso por natureza: “a mentira é o pilar das relações sociais”. Ele diz que todos somos “programados” para enganar desde os primórdios da humanidade, seja para nos proteger, seja para levar vantagem.

O exemplo clássico do mentiroso é o político, que mente por profissão – afirma David Smith em seu livro “Porque mentimos?” - “No princípio havia a mentira - assim podemos constatar na história de Adão e Eva. A mentira encontra-se na raiz de nossa herança cultural. A necessidade de enganar - inclusive a nós mesmos - vai de um extremo a outro de nossa cultura, de Rei Lear a Chapeuzinho Vermelho. Essas histórias, recheadas de invenções, são interessantes exatamente por satisfazerem a necessidade humana de mentir”. 

Fonte: CARLOS HENRIQUE
CARLOS HENRIQUE ÂNGELO (BLOG DO CHA)