Acusações sobre padre Júlio Lancellotti escancaram ataques à luta por políticas sociais
Nos últimos dias o padre Júlio Lancellotti tem sido alvo de ataques raivosos da extrema direita, que acusam o pároco de envolvimento com duas Organizações Não Governamentais que atuam na região da Cracolândia. No requerimento protocolado pelo vereador Rubinho Nunes (União) na Câmara Municipal de São Paulo, o parlamentar alega que a CPI das ONGs pretende “examinar as atividades desempenhadas e se elas estão sendo executadas de maneira satisfatória pelas ONGs que atuam na Cracolândia”. O ataque ao padre Lancellotti, reconhecido nacional e internacionalmente pela luta à inclusão social de grupos menos favorecidos, deve ser analisado sob o seguinte prisma: a quem interessa a difamação de uma pessoa ligada aos movimentos sociais e o que está em jogo neste momento?
Em entrevista concedida à grande mídia, Lancellotti afirma que CPIs são “legítimas”, mas que ele não faz parte do Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto (Bompar) e da Craco Resiste, ONGs que são alvo da CPI. O pároco explica que não faz parte do conselho do Bompar há 17 anos e que ocupava uma posição sem remuneração no conselho deliberativo da entidade. Além disto, revela que as atividades realizadas pela Pastoral de Rua fazem parte de uma ação pastoral da Arquidiocese de São Paulo, “que não se encontra vinculada de nenhuma forma às atividades que constituem o objetivo do requerimento aprovado para criação da CPI em questão”.
Desmascarada a alegação de associação com as ONGs em questão e em qualquer tipo de irregularidade na prática de políticas públicas com as populações mais carentes da capital paulista, Lancellotti foi escolhido alvo de ataques infundados devido à aporofobia da extrema direita por pregar a democracia em todos os seus níveis e pelo temor da influência do sacerdote nas próximas eleições.
Cortina de fumaça
Na qualidade de Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua, o padre Júlio tem exercido um importante trabalho de coordenação, articulação e animação dos vários serviços pastorais voltados ao atendimento, acolhida e cuidado das pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo. As obras junto aos mais pobres e sofredores da sociedade têm sido uma resposta à falta de políticas públicas do governo de São Paulo para com os mais carentes, fato que tem gerado “ciúmes” de partidos ligados ao prefeito Ricardo Nunes.
Próximo às eleições que definirão o novo chefe do executivo local, o partido do vereador Rubinho Nunes, que coincidentemente apoia a reeleição de Ricardo Nunes, tem personalizado e criminalizado Lancellotti para desviar o foco de um dos pontos principais: a disputa eleitoral de 2024. À frente da prefeitura da capital paulista, Nunes e a Secretaria de Assistência Social, responsáveis pela gestão dos recursos públicos destinados à Cracolândia, cruzaram os braços para a questão social. Ao despontar como um defensor da luta por políticas que abracem a população carente, Lancellotti se tornou alvo da fúria da extrema direita e da atual prefeitura, que luta pela reeleição.
Outro ponto importante é a proximidade do pároco com Guilherme Boulos (PSOL), pré-candidato à prefeitura de São Paulo este ano. Além disto, Kim Kataguiri, filiado à União Brasil, também é pré-candidato e a sigla ainda conta com Milton Leite, presidente da Câmara Municipal e uma das principais lideranças no estado.
Personagem marcante do movimento paulista pela inclusão social de grupos menos favorecidos, o religioso recebeu, no 14º CONCUT, o prêmio Personalidade de Destaque na Luta por Democracia, Cidadania e Direitos Humanos por sua incansável defesa dos direitos humanos, em especial da população em situação de rua. Os ataques impetrados pela extrema direita não têm como objetivo investigar atos ilícitos, mas, sim, de ofuscar o trabalho realizado pelo pároco há décadas com os carentes e marginalizados pela sociedade, tentando queimar sua reputação e todo o seu legado.
Para Márcia Gilda, diretora do Sinpro, a ação contra o Padre Júlio Lancellotti reflete o ódio à fraternidade, o ódio à solidariedade e o ódio ao estender a mão a quem precisa. “O Padre Júlio Lancellotti desenvolve um trabalho humanitário lindíssimo, sem precedente, com as pessoas em situação de rua, com pessoas em vulnerabilidade social, na luta contra a aporofobia, que é a luta contra a fobia das pessoas à pobreza. Então, o Padre Júlio é uma pessoa que se coloca em luta o tempo inteiro pelos empobrecidos e pelos desvalidos da cidade de São Paulo. Isso traz o ódio dos poderosos, dos mais abastados, que tentam viver nas suas bolhas, que tentam invisibilizar essa realidade que assola não somente São Paulo, mas os grandes centros de todo o país. Nós estaremos em luta pela defesa da vida do padre Lancellotti, defendendo também seu trabalho de humanização da sociedade”.