Análise: Expectativas do Flamengo em 2018 começam baixas, para quem quer que seja o treinador
A saída de Reinaldo Rueda para o Chile e a confirmação de Paulo César Carpegiani como seu substituto estão na sinopse de hoje da novela rubro-negra. O colombiano chegou ao Brasil lamentando o noticiário e dizendo que não tem nada fechado com a federação do Chile. Pode ser, mas sua atitude pouco transparente com o Flamengo complicou a relação. O rubro-negro é hoje um gigante ferido: derrotados em duas finais no ano passado, torcida e diretores se melindram com tudo que aponte para uma diminuição de sua grandeza, haja vista o prosaico treino do Sport que se tornou escândalo no fim de 2017. Perder um técnico para o Chile bicampeão da América do Sul não seria uma vergonha em lugar nenhum, mas a situação de saber de tudo apenas pela imprensa chilena - a considerar a versão dos dirigentes - fica intolerável para um clube que tem cada vez mais pressa.
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Se Rueda ficar, será como tentar fazer uma relação voltar a funcionar sem nunca ter havido um estado prolongado de lua de mel. Se ele sair, significa que o projeto do Flamengo para um ano de Libertadores e eleição pode começar com um técnico interino. De todo o modo, o ano começará com expectativas bem baixas. O que talvez seja melhor.
Com uma equipe em frangalhos emocionais, entre rumores de barca e reforços ventilados sem sucesso, tudo começa muito diferente de 2017, quando um prestigiado Zé Ricardo tocava a pré-temporada no Ninho, e a folha salarial inchada dava ao clube ares de candidato a tudo. Ficou só no Estadual e viu a casa cair.
Sobre Carpegiani
Apalavrado como coordenador técnico, Carpegiani é um técnico de modestas e distantes realizações. Teve o ponto mais alto da carreira em 1981, quando assumiu o timaço rubro-negro levando os colegas com quem jogava ao título mundial e posteriormente ergueu também um Brasileiro em 1982. Em 1998, conseguiu levar o Paraguai a uma eliminação heroica nas oitavas de final da Copa do Mundo, diante da França, que era país-sede e se tornou campeã.
No Bahia, em 2017, o gaúcho agradou: a uma dezenas de rodadas do fim do Brasileiro, pegou o time que era comandado pelo interino Preto Casagrande, tirou-o do risco de rebaixamento e ainda flertou com aquele monte de vagas que a Libertadores distribui.
Sua equipe era agressiva, a despeito do enorme perigo que corria: atuava num 4-2-3-1 e às vezes num 4-1-4-1, em que o atacante Edigar Junio exibia muita movimentação. Se Rueda sair mesmo, o que parece inevitável, o Flamengo volta ao zero inicial, e Carpegiani dá uma meia-volta na sua carreira para um interinato, até que, quem sabe, surja alguém com ambição para um projeto maior.
Em tempo 1:
Há pouco mais de um ano, o pacato Rueda treinava o Nacional de Medellín e foi um dos líderes morais da causa cavalheiresca que deu o título da Sul-Americana à Chapecoense. Retornou à final do torneio com o Flamengo e viu o espetáculo de horror do Maracanã na final contra o Independiente, numa cidade que anda especialmente violenta. Se ele deixar o clube, suspeito que terá algumas palavras a dizer sobre uma cidade e um futebol cada vez mais hostis.
Em tempo 2:
O grupo da Libertadores é difícil, com um River Plate altamente entrosado por Marcelo Gallardo e o traumático Emelec. Não ajuda muito ver que o noticiário de mercado aponta para o segundo retorno de Vágner Love, de 32 anos. Entende-se a falta que Guerrero faz, mas o maior problema do Flamengo em 2017 foi a falta de passes perfurantes, uma qualidade que Diego não tem e que Éverton Ribeiro sonegou, ao menos até agora. Com um passador mais eficaz, o futuro técnico do Flamengo teria obrigação de criar mais trocas de posição entre os velozes Everton, Paquetá e Vinicius Júnior, com Vizeu à frente.