Carta para Lula

19 de dezembro de 2017 514

 Peço licença para sugerir-lhe sua desistência da candidatura como Presidente da nossa República nas eleições de 2018. E isso pelo bem do Brasil, não por motivo ideológico ou pessoal. Votei em você para o primeiro mandato, acreditando que promoveria as reformas estruturais necessárias para melhorar educação, saúde, transporte coletivo, segurança pública. Mas, após um bom começo ajudando os mais necessitados pela instituição da bolsa família, seu governo passou a não visar um projeto-país, mas apenas um projeto-partido. O PT se serviu dos votos dos pobres e do dinheiro dos ricos para garantir o poder por decênios, navegando no mar da corrupção. Como diz o ditado popular, o uso do cachimbo deixa a boca torta.

            Se o governo petista, como o dos outros partidos que o precederam e o estão sucedendo, não promoveu nenhuma reforma política para acabar com o nefando sistema do presidencialismo de cooptação, baseado na barganha de cargos públicos pelo apoio parlamentar e no conluio entre máfias partidárias e empresas privadas, não deveria se arrogar o direito de querer voltar ao poder, apresentando como candidato à Presidência novamente seu nome, agora manchado por ser réu de improbidade em vários processos, inclusive já condenado em primeira instância judicial. Onde há fumaça, há fogo. Os antigos romanos diziam que a mulher de César não bastava apenas ser honesta, mas também devia parecer como tal.

            Por isso, caro Lula, em lugar de bancar a vítima, o perseguido pelo juiz Moro e pela mídia vendida (não sei a quem!), deveria fazer um exame de consciência, reconhecer os erros do passado e poupar duzentos milhões de brasileiros do vexame de eleger um possível presidiário como Presidente da nossa República.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                  Também porque, num regime democrático, quem manda não é o Chefe do Estado, mas o Congresso Nacional que atualmente tem quase a metade dos parlamentares indiciados por crimes de corrupção.  Você mesmo afirmou, anos atrás, que era difícil governar com trezentos  picaretas. Portanto, em lugar de a gente se preocupar com quem for o próximo Presidente, deveríamos nos esforçar para eleger deputados e senadores honestos e competentes, que pensem no bem geral da Nação. Que as eleições de 2018 sejam o início de um processo de limpeza na política!

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Salvatore D' Onofrio 
Dr. pela USP e Professor Titular pela UNESP 
Autor do Dicionário de Cultura Básica (Publit)
Literatura Ocidental e Forma e Sentido do Texto Literário (Ática)
Pensar é preciso e Pesquisando (Editorama)
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