CUIDADO COM AS HISTÓRIAS QUE VOCÊ IMAGINA, PODEM TORNAR-SE REALIDADE!
A fórmula de mesclar enredos de ficção científica com os dramas reais das ditaduras e das guerras sujas do século passado tem um acréscimo significativo com O Eternauta, lançada em escala mundial no mês passado e que ora começa a ser aqui exibida no streaming da Netflix.
Só que desta vez a realidade não invade a vida fictícia dos personagens, mas sim a existência verdadeira do próprio criador da clássica HQ de 1957. o escritor Héctor Germán Oesterheld.
Mas, deixando o principal para o fim, lembremos incialmente o exemplo de duas obras primas literárias ancoradas na realidade e que renderam filmes interessantíssimos.
Refiro-me, primeiramente, à distopia por mim considerada a melhor de todos os tempos: 1984, escrita por George Orwell em 1948, a partir dos acontecimentos que ele vivenciou nos campos de batalha da guerra civil espanhola.
Esquerdista ingênuo, Orwell foi participar das brigadas internacionais que lutavam contra as tropas golpistas de Francisco Franco e, por mera coincidência, acabou ingressando numa que era controlada pelo Partido Obrero de Unificación Marxista, seguidor de Leon Trotsky.
Os Juan Salvos dos quadrinhos e das telas
Pôde então constatar ao vivo e em cores que a URSS, única aliada de peso dos valorosos espanhóis, cobrava muito caro pelos mantimentos e armamentos que lhes fornecia: obrigava os trotskistas e anarquistas a, em pleno calor da luta, expurgar seus dirigentes que estavam em desacordo com o desvirtuamento da revolução soviética por parte de um dos maiores carniceiros do século passado, o tirânico Joseph Stalin.
Atingido por um disparo inimigo, Orwell volta para a Inglaterra e escreve dois livros contundentes, a partir de suas observações da tragédia espanhola:
--Lutando na Espanha, no qual culpa os soviéticos por terem tirado do povo os motivos que o haviam levado a revoltar-se espontaneamente contra a investida fascista, partindo para a resistência heroica; e
--1984, uma parábola fictícia mas transparente sobre o desvirtuamento da revolução soviética sob Stalin, responsável inclusive pelo massacre da velha guarda bolchevique nos infames julgamentos de Moscou.
O livro é um arraso, me deixou profundamente chocado quando o li. por volta dos meus 16 anos (até garimpei e encontrei um irmão menor, O zero e o infinito, de Arthur Koestler).
O filme, lançado exatamente em 1984, não ficou à sua altura, já que requeria um diretor peso pesado e não, apenas, Michael Radford; mas a força da trama (Orwell foi co-roteirista) e as impactantes atuações de John Hurt e Richard Burton o valorizam muito.
Já o diretor George Roy Hill foi uma escolha bem mais apropriada no caso de Matadouro Cinco (1972), filme no qual quem ficou devendo foi o elenco, encabeçado por Michael Sacks (quem?!).
Lançado em 1969. o best-seller do Kurt Vonnegut Jr., por sua vez, foi o melhor fruto literário daquela voga contestatória na Europa e EUA; e também tem o autor como co-roteirista.
Começa como uma sci-fi rotineira sobre homem abduzido e suas peripécias com os extraterrestres, mas a dramaticidade sobe aos píncaros quando a ação, surpreendendo os leitores, se desloca para a cidade alemã de Dresden, alvo de um bombardeio tão inútil quanto criminoso por parte dos aliados na segunda guerra mundial. Piores do que este, só mesmo os de Hiroshima e Nagasaki...
Torçamos para que a minissérie argentina, ainda no início, acrescente mais uma pérola a esta relação. Nela, o onipresente Ricardo Darin interpreta Juan Salvo, homem comum que se torna viajante do tempo e do espaço ao buscar sua família desaparecida após uma nevasca tóxica.
A arte o conduz à participação num grupo de resistência, inicialmente para sobreviver, depois para o enfrentamento de uma ameaça extraterrestre e, afinal, para cair nas garras dos inimigos.
Já o escritor Oesterheld foi arrastado pela vida em direção semelhante, pois ele aderiu à guerrilha esquerdista dos Montoneros e o fez juntamente com sua família, acabando por ser sequestrado em 1977 pelos militares fascistas.
O desfecho foi trágico: Oesterheld e suas quatro filhas desapareceram para sempre. Será um milagre se algum dos cinco ainda reaparecer com vida, tanto tempo depois.
Resta saber se o imaginário Salvo será salvo na minissérie ou vai evaporar também... (por Celso Lungaretti)
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