"Educação precisa ser prioridade máxima", afirma Rafael Parente

Jornalista Denise Rothenburg entrevista o candidato ao governo do Distrito Federal Rafael Parente no CB.Poder - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O candidato ao Governo do Distrito Federal Rafael Parente (PSB) foi o quinto entrevistado da série que o Correio Braziliense faz com os postulantes ao Palácio do Buriti. Ao CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília —, o professor detalhou que a força de sua campanha eleitoral será a educação. O ex-secretário de Educação do governo Ibaneis Rocha (MDB) também elencou outras quatro prioridades de governo. "Precisamos resolver o caos na saúde, porque as pessoas continuam morrendo por conta do caos na saúde no DF. A gente precisa também resolver a geração de emprego e renda, (porque) nós temos ainda índices muito altos de desemprego, especialmente entre os jovens. Precisamos resolver a questão da mobilidade, já apresentamos ideias para mobilidade verde. E também precisamos tratar dos problemas da segurança", detalhou em conversa com a jornalista Denise Rothenburg.

 

O senador Reguffe (União Brasil) foi rifado pelo partido dentro na disputa ao GDF. Você espera o apoio dele? Soube que ocorreu uma agenda com vocês nesta semana.

O Reguffe é um político importante na cena política brasiliense pela trajetória dele, por tudo que ele fez, honrando com todos os compromissos com o eleitorado dele. O que foi feito com ele e com o grupo dele tem sido muito desrespeitoso, imoral inclusive. Agora, acho que tem muita gente que, de forma bem oportunista, tem ido puxar o saco do Reguffe. Mas, nós nos aproximamos muito nos últimos meses. A gente se fala quase diariamente. Criamos uma amizade muito sincera, de muita lealdade. Ele é uma pessoa que confio e que ouço muito. Acredito sinceramente que existem boas chances de que nós caminharemos juntos, não só durante a campanha, mas também durante o nosso governo em 2023.

Por que você quer ser governador do Distrito Federal?

Quando eu era mais jovem, percebi, por meio de um projeto no qual era voluntário no Varjão, lá em 1999, 2000, que existia muita desigualdade no nosso país. Entendi muito de perto a vivenciar algumas coisas para entender de verdade. Foi só vendo ali de um lado as mansões do Lago Norte e de outro lado casas com tapumes. Eu participava como voluntário em uma creche comunitária do Varjão e aí eu comecei a desenvolver relações de afeto com crianças e jovens. Eu fui conhecer a realidade delas. E me lembro que ficou muito marcado para mim a cena, o cheiro de um quarto, por exemplo, sem cimento no chão e um colchão mofado com cinco crianças em cima. Aquilo me marcou muito e eu comecei a me questionar como é que a gente chegou a essa realidade de ter tamanha desigualdade e de ter essa realidade tão brutal, já que nós somos um dos países mais ricos do mundo. E nós estamos aqui na capital desse país, que é um dos lugares mais ricos e mais desiguais do planeta também. Depois entendi também, trabalhando no governo, que é só por meios dos governos que a gente consegue fazer grandes transformações. A gente pode fazer transformações nas empresas. Já tive também dentro das empresas. Tenho experiência como gestor privado. Fui diretor de empresas e também no terceiro setor, mas as grandes transformações em escala só acontecem por meio de empresas. E depois, enquanto secretário, passei por dois governos, as coisas aconteceram.

Quais foram os governos?

Foi o governo Eduardo Paes, no Rio de Janeiro, na educação, com a Cláudia Costin, e fizemos uma grande transformação. Fui apresentar na ONU em Paris (o projeto da educação). Fui apresentar o que a gente estava fazendo em mais de 10 países diferentes. A Microsoft falou que uma escola que a gente fez dentro da Rocinha era uma das mais inovadoras do mundo. Ou seja, a gente conseguiu levar educação de excelência pros lugares mais inóspitos, mais pobres e mais violentos do Rio. Isso é possível e dá para fazer aqui no DF também. Entendi que para fazer um trabalho técnico e de qualidade, a gente depende da vontade dos governantes. E para colocar a prioridade à educação, a gente precisa, de fato, ter um prefeito ou um governador que entenda que educação é prioridade.

E essa será a força da sua campanha?

A educação precisa ser a nossa prioridade máxima, porque ninguém rouba o conhecimento das pessoas, a educação é o mais importante para as pessoas, para as sociedades. Nenhuma sociedade, nenhum país chegou ao patamar de ser um país avançado, desenvolvido, economicamente, culturalmente, socialmente, sem investir seriamente e por muitos anos em educação. Vários países, que algumas décadas atrás, eram menos desenvolvidos que o Brasil, como a própria Coreia do Sul, passaram a ser potência porque investiram seriamente em educação. Precisamos priorizar de fato a educação, mas nós temos cinco prioridades: resolver o caos na saúde, porque as pessoas continuam morrendo por conta do caos na saúde no Distrito Federal. Precisa também resolver a geração de emprego e renda, (porque) nós temos ainda índices muito altos de desemprego, especialmente entre os jovens. Precisa resolver a questão da mobilidade, já apresentamos ideias para mobilidade verde. Precisamos também tratar dos problemas da segurança.

Como é a mobilidade verde? Você tocou nesse assunto no debate do Grupo Bandeirantes, e virou uma discussão sobre esse tema.

A gente quer, na verdade, fazer com que tenha uma migração do transporte que temos hoje para um transporte verde. Temos muito dinheiro disponível em todo o mundo para diminuição da emissão de carbono dos países, desde que haja projetos sérios. A gente quer buscar esse dinheiro no exterior para instalarmos aqui fazendas de energia solar e instalarmos também fábricas de produção de ônibus elétricos, micro-ônibus e vans, que são como os nossos zebrinhas, e bicicletas elétricas também. A gente vai continuar investindo nos BRTs, o BRT norte, por exemplo. A gente vai continuar a expansão do metrô.

Esse assunto do metrô é polêmico, porque a expansão nunca sai. Tem dinheiro para isso?

Dá para fazer a expansão do metrô até o final da Asa Norte. A partir do final da Asa Norte, a gente continua com BRT norte. Agora dá pra investir também em VLTs. Podemos optar por fazer na Asa Norte ou a expansão do metrô ou o VLT. O que que precisa ser feito? Precisamos buscar esses recursos no governo federal ou também buscar recursos no exterior, já tem um nível de endividamento que é baixo aqui no Distrito Federal. A gente vai ter, só ano que vem, R$ 5 bilhões a mais do fundo constitucional. O que a gente vai fazer também? A gente vai ter essa solução dos micro-ônibus para última milha, ou seja, a gente não está substituindo os ônibus, os BRTs ou o metrô pelos micro-ônibus. A gente está simplesmente falando que as pessoas vão ter micro-ônibus para levá-las de casa até a estação do metrô, até a estação do ônibus e de sair do seu trabalho também pras estações (de metrô). Ao invés de chamar aplicativos de deslocamento para se deslocar em alguns locais, como Santa Maria, você pode chamar um micro-ônibus zebrinha. Ao invés do zebrinha ter no Plano Piloto, você vai ter o seus zebrinhas nas cidades. A gente vai ter uma tarifa única diária de R$ 4 que pode ser ainda mais baixa que a pessoa comprar por semana ou mensal. Como é que a gente conseguiu diminuir muito isso? Primeiro, porque a gente vai ter os recursos para mudar completamente a frota pro elétrico. E, segundo, porque a gente também não vai depender de um combustível que é fóssil. A gente vai ter esse combustível de energia solar.

E a segurança, que você citou que é uma das cinco prioridades. A gente sente a pressão dos policiais por aumento salarial, que vem de algum tempo. Como vai ser esse programa na área de segurança?

Os policiais têm a minha promessa que vamos investir, não só nos policiais, mas em todos os servidores até o limite do possível. Nós vamos buscar sim cumprir os reajustes salariais. A gente vai também avaliar as carreiras dos policiais militares, dos bombeiros. Vamos pensar na questão da comunicação entre as polícias Civil e Militar. Precisamos investir ainda mais na inteligência e na formação. Por mais que a gente saiba que tem policiais do Brasil inteiro vindo fazer formação com as nossas polícias, e que o nível da nossa polícia é muito melhor do que o nível de outras polícias, precisamos continuar investindo muito na inteligência e na formação das nossas polícias. Queremos voltar também com a dupla "Cosme e Damião'', porque faz muita falta em todo o Distrito Federal. Queremos voltar com um batalhão escolar em todas as escolas. E queremos fazer com que o quadro tenha uma recomposição. Precisamos trazer muito mais servidores para o quadro de policiais. A gente chegou a ter 20 mil policiais. Hoje temos 10 mil, que é a metade disso.

E vai ter dinheiro para contratar esse pessoal? 

Se olharmos para o orçamento do Distrito Federal, a gente vê que a questão orçamentária está parcialmente resolvida. Não é que a gente pode sair dando reajustes gigantescos para todas as categorias. Mas, podemos sim falar sobre reajustes para todas as categorias. Precisamos calcular ao longo dos anos, de acordo com o crescimento da economia, de acordo com a aquilo que o aumento das receitas também, mas hoje o Distrito Federal não tem problema de caixa, e existe uma folga para que a gente possa falar sobre recomposições salariais para todas as carreiras.

E em referência a saúde. O que podemos esperar do governo de Rafael Parente nessa área?

Precisamos falar sobre a recomposição dos quadros. O que aconteceu foi uma política intencional nesse governo da desidratação dos quadros dos servidores. No governo anterior, de (Rodrigo) Rollemberg, foi um governo completamente sem dinheiro, contratou 10 mil profissionais da saúde. O governo Ibaneis, com bastante dinheiro em caixa e se gabando de milhares de obras que são importantíssimas, contratou menos da metade (servidores da saúde), mesmo com a pandemia e com o caos na saúde. Esse caos na saúde que a gente está vivendo, (com) tantas pessoas morrendo e ele contratou menos da metade do que o governo Rollemberg. Ou seja, estamos vivendo essa falta de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, porque o governo intencionalmente deixou de contratar novos servidores. É necessário fazer a renovação. Precisamos contratar mais servidores, que serão por meio de concursos. Também olhar para os hospitais, UPAs e UBSs e fazer uma revisão também da infraestrutura toda, inclusive, com relação a novas tecnologias e tudo isso, porque foi muito pouco investimento. São 20 mil pessoas esperando cirurgia, e 5 mil pessoas com câncer. Como é que não conseguimos se colocar no lugar das pessoas ou das famílias que têm câncer e que não conseguem fazer o procedimento? Outro dia, a gente estava numa roda de conversa no Sol Nascente e tinha um senhor com um tumor gigantesco no pescoço. Ele contou a história de mais de um ano tentando fazer uma cirurgia e não consegue atendimento adequado na rede pública.

Mas isso não é por causa da pandemia?

Isso é desculpa. Se olharmos para a pandemia, tivemos uma facilidade comparada a outras épocas, porque foi declarado o estado de emergência. Quando você declara o estado de emergência, você tira um monte de burocracias que normalmente o governo tem para fazer compras, para agir. Então, o governo pode agir com muito mais facilidade.

Ou seja, faltou agilidade então?

Faltou competência, faltou seriedade e sobrou suspeitas de corrupção. O governo não foi sensível, não foi competente, tem um monte de cabide de emprego. Onde já se viu um presidente do Iges-DF pedir demissão porque não consegue demitir os funcionários do instituto? Onde já se viu uma coisa dessas? O presidente do instituto pediu demissão porque não conseguiu demitir gente incompetente.

E como resolver logo? Que até chegar a contratação das pessoas, demora.

A gente pode fazer parcerias, podemos fazer contratos emergenciais, parcerias emergenciais com o setor privado, podemos criar muito rapidamente uma empresa da saúde, uma "Petrobras" da saúde. Isso foi feito no Maranhão. Eu fui lá ver, e eles têm um quarto do orçamento. Pensa, 25% do orçamento que nós temos aqui (no DF). Eles têm hospitais funcionando, não faltam medicamentos e as pessoas têm um serviço de muito melhor qualidade do que a gente tem aqui no Distrito Federal. Lá eles são tratados com dignidade. Aqui, o serviço de saúde é uma porcaria.

FRASE

"Os policiais têm a minha promessa que a gente vai investir, não só nos policiais, mas em todos os servidores até o limite do possível"