Entenda o que está por trás do golpe militar no Myanmar

1 de fevereiro de 2021 100

Myanmar sofreu um novo golpe militar nesta segunda-feira, 1. O exército tomou o poder do país do Sudeste Asiático depois de prender pelo menos 30 pessoas que atuam como políticos, ativistas, escritores e artistas. Entre os prisioneiros está o presidente Win Myint, que foi substituído interinamente pelo vice-presidente Myint Swe antes dele conceder o poder ao chefe das Forças Armadas, Min Aung Hlaing. A prisão mais notória, no entanto, foi a da conselheira de estado Aung San Suu Kyi que, além de ser líder da Liga Nacional para a Democracia (LND), venceu o Prêmio Nobel da Paz de 1991 por sua luta contra a ditadura militar que perdurou no Myanmar de 1962 a 2011.O exército justificou o golpe alegando que houve fraude nas eleições de novembro do ano passado, quando o partido democrático de Aung San Suu Kyi e Win Myint conquistaram 83% dos assentos no Parlamento. Não por coincidência, a casa iniciaria suas atividades com a nova formação nesta segunda-feira, 1. Outras atitudes tomadas pelas Forças Armadas foram bloquear as estradas ao redor da capital, cortar as linhas de comunicação, fechar o espaço aéreo até 31 de maio e garantir o funcionamento de apenas uma emissora de televisão: a Myawaddy News, que pertence aos militares.  A queda nos sistemas também está impedindo a maioria dos bancos de operarem: apenas os que estão ligados ao exército continuam funcionando.Apesar das dificuldades de comunicação, a Liga Nacional para a Democracia (LND) conseguiu fazer uma postagem em seu perfil verificado no Facebook pedindo que, em nome de Aung San Suu Kyi, os cidadãos não aceitem o golpe de estado. “As ações dos militares levam o país de volta à ditadura”, afirma. Desde que conquistou a sua independência do Reino Unido em 1948, o Myanmar vivencia um caos político e social. A súbita ausência de um poder centralizado levou a um primeiro golpe militar em 1962 que foi seguido de quase 50 anos de perseguição política e abusos de poder, incluindo assassinatos, torturas, violência sexual, escravidão, trabalho infantil e tráfico humano.Foi nesse contexto de violações dos direitos humanos que a ativista Aung San Suu Kyi despontou como a principal líder da oposição e fundou a Liga Nacional pela Democracia. O partido teve a sua primeira vitória reconhecida em 2016, superando o Partido da Solidariedade e do Desenvolvimento da União que representa os militares. Apesar de não ter assumido a presidência em si, Aung San Suu Kyi se tornou, na prática, a pessoa mais poderosa do Myanmar. O problema  é que, desde então, sua imagem piorou significativamente frente à comunidade internacional.A conselheira de estado é acusada de não agir em relação à limpeza étnica que a maioria birmanesa budista está fazendo contra as etnias que ocupam as regiões fronteiriças do Myanmar. A etnia muçulmana Rohingya é um exemplo representativo do problema: em momentos de maior hostilidade, cerca de 400 mil integrantes do grupo fugiram para Bangladesh. Ainda assim, importantes líderes mundiais condenaram o golpe militar no país do Sudeste Asiático. Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e Japão, por exemplo, se opuseram à tentativa de agir contra o resultado das eleições e pediram a libertação dos presos políticos. A China, porém, não condenou o golpe, limitando-se a dizer que espera que o país possa “lidar adequadamente com suas diferenças”.