ESPECIAL - Abandono e destruição do Igarapé Grande mostra realidade da ação humana com o lixo
Na Avenida Prudente de Morais, no trecho que fica entre a BR 364 e a Avenida Rio de Janeiro, onde passa o Igarapé Grande, em um lado da pista dentro de um matagal tem uma placa da Sema (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável) de advertência que diz: “Área de preservação permanente. É proibido desmatar, queimar, depositar lixo, construir moradia, construção em geral…”. E do outro lado, fica o canal onde águas vindas de diversos bairros da zona Sul acabam sendo drenadas pelo igarapé – como o Cohab, por exemplo – assim como parte da região central de Porto Velho, como o São João Batista, Tucumanzal e o Areal.
Localização do Igarapé Grande
Essas águas drenadas que passam pelo Igarapé Grande seguem o fluxo até desaguar no Cai N’água, cortando o bairro Baixa da União, duas áreas ribeirinhas próximas ao rio Madeira. Porém há muito tempo vem ocorrendo um crime ambiental de natureza humana na boca do canal do igarapé, pois o acúmulo de lixo é assustador, para piorar, acabou entupindo e represou as águas.
São centenas, milhares de garrafas pet, material plástico, borracha, resíduos sólidos, muito, muito lixo acumulado, incluindo uma carcaça de geladeira. Todo esse material boiando ou destruindo o que deveria ser uma área de preservação permanente.
O engenheiro civil do DNIT, Emanuel Néri, fez um registro dessa situação através de um vídeo e divulgou na sua página pessoal do Facebook, gerando protestos contra as pessoas que ainda não tem a consciência de que lixo, resíduos sólidos, já tem coleta para reciclagem e preservação do meio ambiente.
Vídeo divulgado no Facebook pelo engenheiro
“Aqui tem uma galeria ou é um bueiro armco que não dá para ver porque ele já está represado. (…) Olha o tanto de lixo que está na boca desse bueiro. Esse lixo ele não surgiu aqui, ele não nasceu aqui, ele é fruto da ação desordenada humana. Se nós temos serviço de limpeza, de coleta de lixo na cidade, não há qualquer razão para que a gente tenha tantas garrafas pets jogadas aqui, caixas de leite, desodorantes, isopor de eletrodoméstico, geladeira, saco de lixo. Esse tipo de situação nos entristece”, relata Emanuel em um trecho de seu vídeo.
Justo esse acúmulo de lixo, represamento da boca do bueiro por conta dos resíduos sólidos, vem causando algações constantes em diversos bairros – já citados -, porque a água que se acumula nas ruas não tem como ser drenada, piorando ainda mais a situação nesse período de chuva intensa.
Uma das ruas alagadas de um Bairro na zona Sul com entupimento na boca de lobo
As reclamações que chegam dos moradores via associações de bairros e acusam o poder público pela desfaçatez de não fazer nada para impedir esssas alagações acaba por bater de frente entre os direitos e deveres dos munícipes, muitos ainda não tiveram a consciência de que a capital tem um serviço de coleta de lixo e que não existe a necessidade de transformar as ruas em depositários de lixo doméstico e urbano, como plástico, papelão, vidro e metal.
SEM DEVERES
As subsecretarias da prefeitura, como a Semusb e a Sema, vem realizando força tarefa de limpeza em diversos logradouros de Porto Velho, onde cruzam canais, esgoto e área de APP, para tentar limpar e drenar águas pútridas e resíduos sólidos. Porém apesar de todo o esforço na retirada de quilos e quilos de lixo, parte da população continua desrespeitando seus deveres e jogando lixo nos mesmos locais que antes havia sido limpos.
Desde outubro do ano passado a Subsecretaria Municipal de Serviços Básicos (Semusb) vem realizando em toda a cidade um levantamento do sistema de drenagem para identificar pontos críticos e a situação das caixas coletoras. Com isso as informações coletadas são encaminhadas para um banco de dados e com ele uma programação é montada para atender todas as necessidades encontradas.
Esse mapeamento, feito em parceria com a Faro, que disponibilizou acadêmicos de engenharia, até dezembro do ano passado foram verificados 35 bairros.
Nesse levantamento foram encontrados diversos problemas, como manilhas quebradas, outras que precisam ser substituídas, por não suportar mais o volume de água, muito lixo, terra, falta de “grelha”- que é a proteção para que não caiam nas caixas coletoras garrafas e demais resíduos que acabam entupindo a rede e causando alagações - e milhares de ligações clandestinas de esgoto, práticas que contaminam galerias pluviais e provocam transbordamentos, o que causam os problemas de alagamentos nas regiões centrais, zona Leste e Sul da Capital.
Porém, o lixo, o acúmulo de resíduos em canais tem dado muita dor de cabeça a Semusb e levando a própria comunicação da Prefeitura a divulgar acintes da ação humana, que tem proporcionado espanto, como uma cama box de casal recolhida em um canal localizado entre a Avenida Carlos Gomes e a Rua Benjamin Constant, no dia 16 de fevereiro desde ano, causando o entupimento e alagação daquele setor.
Cama box retirada de um canal na região central de Porto Velho
No Bairro Lagoinha, um dos mais castigados com as chuvas da atual temporada, devido ao excesso de acúmulo de água e falta de drenagem, em um dos pontos do lagradouro, na rua Daniela com Ana Caucaia, servidores da subsecretaria retiraram da coletora muitas garrafas pets, outros materiais plásticos e até um carrinho de mão.
Carrinho de mão retirado de caixa coletora de esgoto
Típicos resíduos que vem transformando o Igarapé Grande em um amontoado de lixo a céu aberto e destruindo uma área de proteção permanente.
Para evitar que situações como vem ocorrendo em diversos canais de Porto Velho, em área de proteção, ou em terrenos baldios, onde são jogados entulho, lixo, a Sema (Subsecretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável) disponibiliza um canal de denúncia em seu site, clique AQUI.
IGARAPÉ NO PAC
O Igarapé Grande é só um exemplo de descaso. Consta na página do Ministério do Planejamento, que esse igarapé está inserido dentro de uma obra do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), onde o executor é o município de Porto Velho, com investimento previsto de R$ 22.653.080,86 e em sua observação consta que inclui investimentos de 2007 e 2010. O curioso é que na página aponta que o estágio é “Em obras”, com data de referência de 31 de dezembro de 2017.