Geralmente eu sempre sei o que dizer.
Geralmente eu sempre sei o que dizer. Foi um dom que a vida me deu de graça, à base de nada: 0800, sem que sequer fosse um bom leitor. Repetindo: não sou um bom leitor, é uma confissão. Registre-se.
E foi muito, muito mais do que mereço, pois, honestamente, não fiz por onde. Não estou exagerando e/ou me fazendo de coitado, quem me conhece sabe a verdade e é exatamente como coloquei – nem mais nem menos.
Foi assim, surgiu como num estampido seco de estalo de dedos. Qualquer coisa, qualquer assunto... Me dê uma linha perdida no horizonte e a seguirei até o fim, desde que, obviamente, não seja algo do ramo de exatas ou absurdamente científico, situações anos-luz de distância do ordinário, da camada pouco espessa e superficial do cotidiano e suas vertentes igualmente banais.
Porém, já faz mais de três meses que tento dizer alguma coisa, qualquer coisa, a respeito das questões relacionadas ao Coronavírus (COVID-19/SARS-CoV-2), e, a cada esboço, confesso, às vezes de uma ou duas laudas até, a tecla “Delete” sobrepujava-se logo em seguida às palavras lançando-as no fosso do esquecimento. E aí, página eletrônica zerada no Word, cursor piscando de novo no branco eterno tanto da tela quanto da mente vazia do autor. Tem sido assim...
Cheguei à conclusão de que a única maneira de ser grato por um punhado de conquistas inesperadas, incluindo neste trágico, inescrupuloso e maldito ano de 2020, é respeitar minha própria hesitação patrocinada por uma ínfima centelha de bom senso construída na última década como jornalista.
Compreendo os colegas que rumam por outro caminho; afinal, a vontade de falar sobre as coisas, esmiuçar os assuntos, destrinchar os tópicos e daí por diante carrega consigo o espectro de uma sedução quase gravitacional.
Logo, uma decisão pessoal, intransferível, despida de julgamentos, e este último ponto específico precisa ficar bem claro: quem bate o malhete é a consciência. Você não pode fazer por mim. Eu não posso fazer por você. Simples assim.
Dar pitaco, falar sobre o que não entendo, e isto envolve, sim, também os aspectos econômicos como a questão da reabertura do comércio ou possível reinício das aulas em agosto, enfim, ainda que no âmago da minha existência acredite estar prestando solidariedade às vítimas ou afagando a dor de amigos, familiares e colegas destes, não.
Não mesmo!
Vou deixar o viés opinativo de lado mantendo o ofício relacionado às nuances factuais, reportagens, dados, e trabalhar somente com informações.
Editoriais, quando escrever, serão sobre os atos de gestão em quaisquer esferas do poder público, esta é a exceção exclusiva; a coluna Visão Periférica, à qual me dediquei bastante em 2019, por exemplo, está suspensa por ora.
Finalizo deixando minhas mais sinceras condolências à memória de quem partiu; e aos familiares dos que se foram, meus pêsames; a todos, de modo geral, meu desejo de que se mantenham seguros e tentem, na medida do possível, aprender a enxergar a dádiva de respirar com outros olhos, de repente até mesmo como uma oportunidade de depuração existencial.
Quem sabe?
Vocês sabem.
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Adendo – Um abraço apertado na família Restier pelo falecimento do engenheiro mecânico Ilson Lobo, aos 64 anos. O servidor de carreira do Departamento de Estradas de Rodagem (DER/RO) nos deixou no final da noite de quarta-feira (17). Meus mais profundos sentimentos às filhas dele: Patrícia, Renata e Tatiane.
Meu coração está com vocês.
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VISÃO PERIFÉRICA
POR: VINICIUS CANOVA