Lula é o rei do “machismo patriarcal” combatido pela esquerda

18 de julho de 2024 42

Foto: Claudio Kbene / PR

Pensem num sujeito que defende — com unhas e dentes — quaisquer pautas de combate a preconceito, racismo, opressão ou outra forma covarde de ataque à identidade ou personalidade de um indivíduo; ou um grupo. Pois é. Não sou Roberto Carlos, mas esse cara sou eu. Lado outro, pensem num sujeito que detesta rótulos, demagogia, oportunismo e bandeiras mais falsas e hipócritas que promessa de político em campanha eleitoral. Isso aí. Eu de novo. 

O feminismo não é novidade. Data, segundo registros, do início do século XX, mas ganhou força a partir dos anos 1960 e 1970, sobretudo em meio à chamada Revolução Sexual, e principalmente após os anos 1990. Porém, há feminismo e… feminismo! Há, claro, a luta legítima — e apoiada por mim – por emancipação, igualdade e reconhecimento das mulheres. Quando encabeçada por gente séria, sem propósito político-ideológico e, mais ainda, com conteúdo, sem chavões bocós e lacrações fáceis, aí é que dou uma de Tamanduá-bandeira e abraço forte a causa.

Por isso, quando Lula, lá pelos idos de 2016, em conversa com o recém-nomeado ministro-chefe da Casa Civil, Paulo Vannucchi, lhe disse — no mais perfeito “lulês” — a respeito “daquele procurador FDP”, que “nós vamos pegar esse de Rondônia agora e vamos botar a Fátima Bezerra e a Maria do Rosário em cima dele. Faz um movimento da mulher contra esse FDP. Porque ele batia na mulher, levava ela pro culto, deixava ela se F***, dava chibatada nela. Cadê as mulheres de grelo duro do nosso partido?”, na boa, não me importei ou saí em suas defesas. Afinal, feministas que defendem, ou ao menos não condenam, regimes tiranos como o iraniano, por exemplo, são feministas de araque.

O prontuário é extenso

Lula já declarou, em entrevista histórica à revista Playboy, dentre outras barbaridades, que assediava viúvas em busca de pensão no sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP). Aliás, foi lá — e assim — que conheceu Dona Marisa Letícia, morta em 2017. O emprego, portanto, funcionava como uma espécie de precursor do Tinder, e o petista colecionava “contatinhos” fragilizados.

Piadas de cunho machista e sexista não são incomuns nas falas públicas do presidente da República, todos sabem. Tampouco a respeito de gênero: “Pelotas é pólo exportador de veados”. Talvez pela idade e o consequente relaxamento nos modos, ou ainda, lapsos cognitivos, nos últimos dias, Lula vem constrangendo com frequência quem ainda se permite ter algum tipo de crítica. 

Em maio último, em Maceió (AL), durante uma cerimônia de entrega de casas populares, assim se referiu a uma moça presente: “aquela menina que tem um monte de filho, ela tem 5 filhos. Eu falei: companheira, quando é que vai fechar a porteira, companheira? Não pode mais ter filho. Ela já tem 5 filhos, ela tem 27 anos”. Caramba! Isso é de uma crueldade inominável. Lula cobra juízo de quem, em boa medida, por culpa do abandono do próprio Estado (falta de Saúde e Educação públicas), não o possui.

Mais falas indecorosas

Antes disso, em fevereiro deste ano, em um evento na fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo, chamou uma moça negra ao palanque, pegou-lhe pelo braço e mandou: “essa menina bonita que está aqui. Eu estava perguntando: o que faz essa moça sentada, que eu não ouvi ninguém falar o nome dela? Falei: Ela é cantora, vai. Não, não vai cantar. Perguntei (e disseram): ‘Não, não vai ter música’. Então, ela vai batucar alguma coisa. Porque uma afrodescendente assim gosta de um batuque de um tambor”.

Não satisfeito com a fala de cunho racista, continuou: “Falei: Nossa, então ela é namorada de alguém. Também não é. O que é essa moça? Essa moça foi premiada ano que vem como a mais importante aprendiz dessa empresa e ganhou um prêmio na Alemanha. É isso o que nós queremos fazer para as pessoas nesse país”. Eis aí. Para Lula, a mulher ou era namorada de alguém ou não teria o que fazer ali, até saber do prêmio que ganhara.

O grande chefe petista adora cobrar – fingindo não ser com ele – uma maior presença de mulheres no governo. Ao mesmo tempo, ou as rifa em benefício de homens, como no caso da ex-ministra Ana Mozer, substituída por André Fufuca (o do estádio Fufucão), ou esvazia suas Pastas – que o digam as ministras Marina Silva, Meio Ambiente, e Sônia Guajajara, Povos Indígenas. Aliás, a expectativa era de uma indicação feminina para o STF (Supremo Tribunal Federal), mas o “feminista” preferiu seu ex-advogado, Cristiano Zanin.

Violência contra as mulheres

O Brasil amarga, dentre tantos outros índices negativos, o 5º lugar no ranking mundial de Feminicídio, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH). Só perdemos para El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia (dados de 2022, divulgados em 2023). No ano passado, segundo o próprio governo do PT, ao menos oito mulheres foram vítimas de violência doméstica a cada 24 horas nos estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo, de acordo com a Rede de Observatórios da Segurança.

Estupros, somente em 2022, somaram mais de 68 mil casos — a maioria com jovens até 16 anos. Mas, ainda assim, perante a própria esposa e uma plateia estupefata, o presidente da República, comentando sobre o tema, resolveu fazer piada: “Hoje eu fiquei sabendo de uma notícia triste. Eu fiquei sabendo que tem pesquisa, Haddad (ministro da Fazenda), que mostra que depois de um jogo de futebol aumenta a violência contra a mulher. Inacreditável. Se o cara é corintiano, tudo bem, como eu, mas eu não fico nervoso quando perco, eu lamento profundamente”.

Talvez ainda mais lamentável que a fala em si, seja o fato de absolutamente todas — eu disse todas! — as parlamentares petistas e representantes de movimentos feministas ligados à esquerda manterem-se em silêncio ensurdecedor, ainda que não me surpreenda, pois é o mesmo silêncio que essa turma mantém em relação aos crimes contra homossexuais e fiéis de outras religiões, que não o Islã fundamentalista, praticados por teocracias sanguinárias do Oriente Médio.

Um último caso, para encerrar

Estava pronto para terminar quando um bom conselheiro — que não é a minha memória — me lembrou de outro episódio grotesco. Em 2014, no costumeiro linguajar chulo e sob os costumeiros aplausos bajuladores, em um evento, Lula cobrou do presidente mundial do Grupo Santander, à época o espanhol Emilio Botín, a demissão de uma economista que havia feito duras críticas ao governo da ex-presidente Dilma Rousseff

“Ô Botin, é o seguinte, querido. Essa moça tua que falou, não entende porra nenhuma de Brasil e não entende nada de governo Dilma. Me desculpe. Manter uma mulher dessa num cargo de chefia é, sinceramente. Pode mandar embora e me dá o bônus dela pra mim que eu sei como é que eu falo”. Pergunto: alguém já viu, ou ouviu, Lula cobrar, nestes termos, a demissão de algum homem?

O presidente, assim — e a história me assiste razão —, não apenas coaduna com o tal “machismo patriarcal” que as esquerdas juram defender, como a cada declaração e piadinha juvenil, acaba passando um belo paninho para as agressões que deveria, ao lado das feministas de plantão, combater. Mas aí não seria o bom e velho Lula que tão bem conhecemos.

 

 

Fonte: Ricardo Kertzman