Manipulação de filhos, troca de casais e disputa por poder e dinheiro: veja os pontos que a acusação deve usar no júri de Flordelis

25 de novembro de 2021 249

O julgamento da ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza, acusada de ser mandante da morte do marido, o pastor Anderson do Carmo, ainda não foi marcado. A previsão dos advogados da pastora é de que o júri seja agendado ainda para o primeiro trimestre de 2022. Nessa quarta-feira, dois filhos de Flordelis - Lucas Cezar dos Santos e Flavio dos Santos Rodrigues - foram condenados por envolvimento no assassinato.

No julgamento que ainda ocorrerá, além de Flordelis, serão julgados cinco filhos da pastora, uma neta, um policial militar e sua esposa. Abaixo, veja dez pontos que devem ser usados pela acusação - Ministério Público e assistente de acusação - no julgamento da ex-deputada.

1) Manipulação dos filhos e controle

Nos depoimentos de testemunhas no processo contra Flordelis e seus filhos, a ex-deputada foi apontada como manipuladora e responsável por dar o comando final na casa da família. De acordo com as investigações, o poder que exercia sobre os filhos fez com que a ex-deputada tivesse apoio para o plano de matar o pastor. Segundo o MP, Flordelis "arquitetou toda empreitada criminosa, arregimentou, incentivou e convenceu" os filhos a participar do seu plano.

Além da manipulação, as testemunhas foram uníssonas ao afirmarem que nada aconteceria na casa da família sem a ciência e aval de Flordelis. Por isso, para o sinvestigadores seria impossível que um plano para executar Anderson existisse sem que Flordelis tivesse participação.

2) Relacionamento aberto e troca de casais

Em seus depoimentos sobre o caso, a delegada Barbara Lomba afirmou que Flordelis e Anderson possuíam um casamento aberto e relacionavam-se com outras pessoas. Responsável pela primeira fase das investigações do caso, a delegada também já afirmou que havia sexo entre diferentes integrantes da família. Segundo ela, as informações foram dadas à polícia por filhos de Flordelis e pessoas que tinham convivido com a família.

Para os investigadores, as revelações expuseram uma face oculta da família, bem diferente daquilo que era de conhecimento do público. Evangélicos, Flordelis e Anderson fundaram uma igreja, o Ministério Flordelis, e posavam como uma família perfeita, modelo de amor e solidariedade.

3) Castigos duros aos filhos

Os depoimentos sobre a morte de Anderson do Carmo acabaram revelando ainda que as crianças e adolescentes da família sofriam duros castigos físicos. Lucas Cezar dos Santos, filho adotivo condenado a sete anos e meio pela morte do pastor, relatou à polícia que a mãe tinha um taco de beisebol "para bater nos outros".

Já Roberta dos Santos, também filha adotiva da ex-deputada, relatou uma rotina de castigos que incluía colocar as crianças ajoelhadas no milho e olhando para a parede. Segundo ela, o irmão Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico de Flordelis, era o responsável por aplicar o "corretivo".

Os relatos colocaram em xeque a imagem de Flordelis como mãe afetuosa, que por amor acolheu mais de 50 crianças em sua casa. Com a bandeira da desburocratização da adoção no Brasil, a pastora foi eleita deputada federal em 2018 com quase 200 mil votos. Em 11 de agosto deste ano, a ex-deputada foi cassada. Com a perda do mandato, ela foi presa.

4) Disputa por poder e dinheiro

Polícia Civil e Ministério Público apontam a disputa por poder e dinheiro como motivação para a morte do pastor Anderson do Carmo. As investigações revelaram que o controle rigoroso das finanças da casa pela vítima vinham desagradando Flordelis e alguns de seus filhos envolvidos com o crime.

Ainda de acordo com as investigações, os planos para executar o pastor Anderson se intensificaram após a eleição de Flordelis.

5) Insatisfação com Anderson e o casamento

Testemunhas do processo como o filho afetivo de Flordelis, Wagner Andrade Pimenta, o Misael, e sua esposa, Luana Vedovi, relataram que antes do crime a pastora vinha dando demonstrações de que estava insatisfeita com o casamento e o marido.

Em conversa entre Flordelis e o filho André, a pastora afirma que não poderia se separar de Anderson, pois ia "escandalizar a obra de Deus". Segundo o promotor Sérgio Lopes Pereira, responsavel pela denúncia contra a ex-deputada, em sua "lógica torta", Flordelis decidiu que o assassinato do marido escandalizaria menos do que a separação.

Nas mensagens com André, segundo os investigadores, Flordelis ainda chama Anderson de traste, perguntando ao filho até quando teriam que aguentá-lo. Para a acusação, as trocas de mensagens entre Flordelis e o filho são prova importante da insatisfação de Flordelis com a vítima e de sua tentativa de iinsuflar o ódio de André contra Anderson.

6) Tentativa de atrapalhar as investigações

Flordelis é acusada de ter tentado atrapalhar as investigações do caso, forjando uma carta com uma nova versão sobre o assassinato. Na correspondência, seu filho Lucas assumia participação na morte de Anderson e isentava o irmão Flavio de envolvimento na trama. Ele ainda apontava dois irmãos - Misael e Luan - como envolvidos no crime. No entanto, nenhuma outra testemunha tinha apontado qualquer participação de ambos na morte da vítima.

Para a acusação, a tentativa de atrapalhar as investigações evidencia o envolvimento de Flordelis na trama.

Fonte: EXTRA