Nada será como antes: o enterro do mito
O capitalismo, integrando países e fluxos mundiais de comércio, tecnologia e investimentos, melhorou, de forma sustentada, os padrões de vida de diferentes regiões, nos últimos quinhentos anos. A boa observação demonstra que a maior pobreza e as maiores misérias se encontram em regiões não tocadas pelas políticas que os adversários classificam, hoje, de neoliberais. Nem vou discutir que neoliberalismo é uma falácia, mas, de nada adianta a razão contra os que vociferam contra o capitalismo até porque, na prática, costumam acusar de neoliberal quem defende as ideias econômicas ortodoxas e que se comprovaram como socialmente válidas para melhorar a vida das pessoas. Risível é que acusam o capitalismo também, de gerador de crises, como se as crises não fosse inerente a todos os tempos e épocas, como também se proclama a incapacidade dos mercados se auto-regularem, e, portanto, da necessidade do Estado para corrigir os desvios do mercado mediante medidas de controle. Ora, bons estudiosos não desconhecem que os ciclos ascendentes, ou descendentes, constituem algumas das características mais interessantes e desejáveis de uma economia de mercado. É fruto da tensão constante entre os desejos humanos infinitos e as possibilidades limitadas do imediato aumento da oferta. Também, se analisam, descobrem que, na origem, de muitas das crises, como a do Sub Prime de 2008 ou mesmo na do Brasil recente, estão políticas públicas heterodoxas, que estimularam, entre outras coisas, a conivência espúria entre o estado e o setor privado. Deveria ser um consenso-não fosse a ideologia- que os mercados são mais facilmente capazes de se auto-corrigirem do que via os governos: afinal distribuem com rapidez ganhos e perdas, realizando num breve espaço de tempo os lucros (ou prejuízos) dos investimentos (bons ou maus) efetuados. Tudo que se faz, via governo, porém precisa enfrentar o calvário do debate legislativo (nos regimes democráticos). O processo, é verdade, pode ser feito por decreto executivo, porém, em geral, autoritário, sem transparência, mais arbitrário e sujeito ao jogo da corrupção. A grande vantagem relativa dos mercados é a capacidade de mudar rapidamente, o que governos levam anos para fazer. Não sem dor, é claro, mas de forma menos arbitrária. A grande ironia do momento é que a China, em geral, citada como exemplo de que a direção estatal impede as crises se encontra imersa na crise da falência da Evergrande, sua maior empresa de construção civil, que gerou pânico nos mercado por excesso de dívidas. O governo da China, que se comporta como qualquer governo do mundo, somente se preocupa em evitar protestos e tomar medidas que evitem ou minimizem um efeito cascata em compradores de imóveis e na economia. A crise, num país que, supostamente, controla tudo é mais grave porque, dada a falta de transparência, nem mesmo se sabe o seu tamanho. E, ironicamente, nas economias coletivas, onde sempre acontecem pela falta de mercadorias e serviços, no caso atual provém do excesso- de dívidas e de construções. E, pasmem, estimuladas pelo governo chinês. Nada será como antes, depois desta crise, na medida em que a China parece, por fim, enterrar o mito de que as crises não acontecem em economias estatais.
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A POLITICA VISTA POR UM POETA ( SILVIO PERSIVO
Colaborador do quenoticias.com.br, Silvio Persivo é Economista com Doutorado em Desenvolvimento Sustentável pelo NAEA, escritor, poeta e professor de Economia Internacional e Planejamento Estratégico da UNIR. E-mail: silvio.persivo@gmail.com