No mundo paralelo em que vivem os deputados 'conservadores' de Rondônia, sexo é algo que eles nunca viram

10 de julho de 2024 55

Alguns políticos de Rondônia vivem em um mundo paralelo, onde meninas vestem rosa, meninos vestem azul, todos são cristão evangélicos e estudam em escolas cívico-militar, onde ficam protegidos do mundo malvado dos ‘esquerdistas-progressistas’ pecadores que querem desvirtuar as ‘pobres criancinhas’.

Neste universo, o falecido Olavo de Carvalho é leitura obrigatória nas escolas, Jair Bolsonaro é presidente, seus filhos ministros do Supremo Tribunal Federal e o deputado estadual Delegado Camargo é ministro da Educação, Coronel Chrisóstomo presidente do Congresso e Jaime Bagattoli ministro da Agricultura.

Também integram o ministério ideal o deputado Jean Oliveira, responsável pela cultura, onde nos eventos patrocinados pelo estado, é proibido qualquer referência a sexo, mesmo que sejam educativos, afinal, isso pode levar as crianças a pensar em ‘fazer coisas' que elas ignoram, e nem devem ser informadas do que se trata, já que quando acontecem, é melhor que elas não saibam para não ficarem traumatizadas. Como diria Pastor Feliciano, ‘essas coisas devem ser tratadas dentro da igreja’ e não pela polícia.

Evidente que os parágrafos acima contém ironia, mas é a visão ideal dos políticos ‘conservadores’ que representam parte do eleitorado de Rondônia. Folclórico e persistente, o deputado Delegado Camargo, por exemplo, comemorou a sanção pelo governador Marcos Rocha de um projeto de lei de sua autoria, que proíbe ‘músicas com conteúdo musical nas escolas públicas e privadas’ do Estado. Ainda não foram estabelecidas sanções a quem descumprir a norma, mas isso não importa, o que vale mesmo é o discurso feito no púlpito durante os cultos, onde ele defende as criancinhas, ignorando totalmente a presença de menores em redes sociais como o TikTok, Instagram e outras frequentadas por jovens que passam o dia ouvindo todo tipo de porcaria patrocinada por gravadoras. Mas ao invés de estimular a educação musical, é mais fácil proibir (ao menos no papel). O problema é que ‘cultura musical é coisa de esquerdista comunista’.

Só para lembrar, Camargo é aquele deputado que anda com um cartaz no peito escrito ‘fora Lula’, e também foi responsável por criar a 'medalha Olavo de Carvalho’ que se destina a contemplar pessoas físicas e jurídicas que exerçam atividades educacionais, culturais e legislativas, que tenham contribuído direta ou indiretamente, com serviços relevantes ao Estado de Rondônia ou ao Poder Legislativo”.

O deputado Jean Oliveira foi outro que também resolveu ‘inovar’. Apresentou uma lei que “proíbe a participação de crianças e adolescentes em eventos, manifestações e movimentos cujo tema seja sexualidade". A coisa é tão bisonha e sem sentido, que claro, os esquerdistas do PT tinham que se meter e a legenda ingressou com uma ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) para derrubar a norma.

Os deputados de Rondônia ignoram totalmente a realidade, vivem em um universo que só existe em suas cabeças contaminadas por centenas de horas de vídeos bizarros de canais obscuros do YouTube ou teorias conspiratórias que circulam em grupos de Whatsapp. Banco de escola nunca fez mal para ninguém, mas eles certamente não assistiam aulas em suas épocas.

Ainda bem que existem políticos equilibrados e alinhados com a realidade, como Confúcio Moura. Até mesmo Ivo Cassol, que sempre foi 'direita raiz’, nunca ousou visitar o universo paralelo onde vivem alguns políticos de Rondônia.

Realmente, educação faz muita falta.

Fonte: PAINEL POL[ITICO