O fator transferência
Diante da provável impugnação da candidatura do ex-presidente Lula, que o PT lançou ontem em Contagem (MG), as pesquisas eleitorais começaram a excluí-lo dos cenários projetados, situação em que a liderança é assumida por Jair Bolsonaro. A variável “transferência de votos” para um candidato que venha a substitui-lo tem sido negligenciada, embora já tenha sido aferida em outros momentos. Ontem, porém, a consultoria XP divulgou pesquisa encomendada ao instituto Ipespe, do cientista político Antonio Lavareda, com a novidade de que o ex-prefeito Fernando Haddad chega ao segundo lugar, com 11%, quando apontado como candidato apoiado por Lula.
No cenário em que Lula é incluído entre os candidatos, ele alcança 30%, seguido de Bolsonaro com 20%. Os dispostos a votar nulo ou em branco ficam em terceiro lugar (15%) e só depois vêm Marina (10%), Alckmin (7%) e Ciro (6%), que encolhe muito quando Lula concorre.
Numa primeira situação sem Lula, em que o alerta vemelho “apoiado por Lula” não aparece ao lado do nome de Haddad, ele alcança apenas 3%. Neste caso, a maioria dos entrevistados (27%) declara a intenção de votar nulo, em branco ou em nenhum candidato. O candidato líder é Bolsonaro (22%), seguido de Marina Silva (13%), Ciro Gomes (11%), Geraldo Alckmin (8%), Álvaro Dias (6%) e da turma da lanterna, com 3% ou menos, nela incluído o ex-prefeito petista de São Paulo. Mas ele salta para 11% na simulação seguinte, em que é apresentado como “apoiado por Lula”, tirando votos de Ciro e Marina, num sinal de que a transferência de votos poderá fazer diferença na seleção dos dois finalistas.
Neste cenário, eleitores negativistas, dispostos a votar nulo ou em branco, ainda são maioria, mas caem para 25%. Bolsonaro perde um ponto porcentual, ficando com 21%, seguido de Haddad com 11%, em empate exato com Marina Silva, que recua dois pontos porcentuais. Ciro recua para 9%, seguido de Alckmin (8%), Dias (6%) e dos que têm menos de 2%.
A pesquisa projeta também a situação em que o PT não teria nenhum candidato. Os nulos/brancos/nenhum sobem para 30%, Bolsonaro chega a 23%, seguido de Marina (13%), de Ciro (11%) e demais, sem variações importantes. Mas este é um cenário irrealista. O PT brigará na Justiça por Lula e o substituirá por outro petista diante da impugnação. Ficando fora do segundo turno é que apoiará outro nome da esquerda, se um deles lá chegar.
Esta pesquisa, por seu patrocinador e pelo momento nervoso em que ocorre, mereceu muita atenção do mercado. A XP divulgou inicialmente o resultado de uma enquete com investidores, em que 48% disseram acreditar na vitória de Bolsonaro, e num segundo turno entre ele e Ciro. Em sondagem anterior, a crença era numa disputa final entre Bolsonaro e Alckmin. O mercado sinaliza assim a descrença no tucano, seu nome preferido, que pouco se moveu na sondagem da XP.
A pesquisa tem margem de erro alta, de 3,2% para mais ou para menos, por ter sido realizada por telefone, ouvindo mil pessoas, entre 4 e 6 de junho. Mas alguns de seus achados conferem com os da pesquisa do site Poder360, divulgada também esta semana. Ambas indicam, por exemplo, pela primeira vez, que Bolsonaro cruzou a marca dos 20% de preferência.
A do Poder360 apurou que, para 54% dos entrevistados, Lula não deve apoiar ninguém se não puder ser candidato. Os demais, entretanto, se dividiram: 16% apontaram Ciro Gomes como quem devia ser apoiado, 12% apontaram Fernando Haddad e 8% o ex-ministro Jacques Wagner. A soma dos dois últimos, que são petistas, dá 20%, algo equivalente à taxa de transferência de votos de Lula apurada em outras pesquisas. Ela é, portanto, uma variável real, a ser considerada. Que força terá, ainda se verá.
NA REDE
Pesquisa da Aja Solutions constatou que, pela segunda semana consecutiva, a candidata do PC do B, Manuel D’Ávila, obteve mais relevância e visibilidade no Twitter, seguida de Bolsonaro. Lula está em terceiro lugar há três semanas
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A POLITICA COMO ELA é (POR : TEREZA CRUVINEL)
Tereza Cruvinel atua no jornalismo político desde 1980, com passagem por diferentes veículos. Entre 1986 e 2007, assinou a coluna “Panorama Político”, no Jornal O Globo, e foi comentarista da Globonews. Implantou a Empresa Brasil de Comunicação - EBC - e seu principal canal público, a TV Brasil, presidindo-a no período de 2007 a 2011. Encerrou o mandato e retornou ao colunismo político no Correio Braziliense (2012-2014). Atualmente, é comentarista da RedeTV e agora colunista associada ao Brasil 247; E colaboradora do site www.quenoticias.com.br