Os Intocáveis – Uma história real sobre os gargalos do Poder

31 de janeiro de 2018 881

Porto Velho, RO – A luta contra a corrupção e o combate à imoralidade na vida pública são desorganizados e segmentados: só existem para alimentar levantes sectários, narcisistas, pretensiosamente ideológicos.

O cidadão de bem “empiriquitado” de verde-amarelo, munido dos cânticos nacionalistas e que costuma empunhar a bandeira brasileira ao vociferar contra a politicagem e seus desmandos consegue retornar ao lar e recostar a cabeça no travesseiro dando parabéns a si e crendo – inacreditavelmente – ter feito um trabalho excepcional.

À risca, o restante da insurgência é desenvolvido através das redes sociais com o bumbum devidamente acomodado numa garbosa cadeira de couro gordo; o território é fértil para bobajadaque, absorvida rapidamente por outros guerrilheiros apedeutas, ganha o mundo em segundos embrulhada às tonalidades de combate eficiente – como se fosse algo significativo e real.

Com o acórdão que sacramentou a condenação do ex-presidente Lula no caso tríplex, o Brasil comemora o fim da corrupção: não existem mais malas de dinheiro correndo aqui e acolá; não há mais compra de deputados para aprovação de pleitos do Executivo; os criminosos do colarinho branco estão apenas na ficção e o Planeta Terra passa a ser um lugar mais seguro, limpo, rico e maravilhoso para se viver.

Não!

A sociedade civil desorganizada, ora cega, surda e muda, resolveu tirar férias por tempo indeterminado. Com a esquerda e o lulismo “vencidos”, digamos assim, não há mais razão para pelejar gratuitamente.

E já que a caça às bruxas encerrou com cabeças decepadas e corpos queimados, não há motivos para questionar o "ilibadíssimo" deputado presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) sobre a ascensão de seu patrimônio em três décadas de um vazio gritante e muito menos acerca do recebimento indiscriminado do imoralíssimo auxílio-moradia.

Com a turba ensandecida de seguidores relativizando pro seu lado e tentando justificar o injustificável, formou-se um abre-alas para que histórias semelhantes fossem compreendidas e aceitas da mesma forma. O status viral de inquestionabilidade contaminou geral.

O juiz federal Marcelo Bretas, que concorre com Sérgio Moro pelo título de herói do País, precisa morar duas vezes.

Quem explica melhor é o jornalista Reinaldo Azevedo que, embora tenha sérias divergências com praticamente 90% do que diz e escreve, às vezes é tão visceral que dá pra enxergar a situação em carne viva, pulsando em glóbulos vermelhos!

“Pois bem! A coluna “Painel” desta segunda, da Folha, revelou algo realmente impressionante. O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio — aquele que já é bem mais famoso do que Sérgio Cabral, seu réu de estimação —, que gosta de disputar com Sérgio Moro, a sua versão mais chique, o galardão de homem de moral mais ilibada do país, é beneficiário não de um, mas de dois auxílios-moradia. Explica-se: sua mulher também é juíza. E, parece, eles precisam morar, sei lá, duas vezes…  Só o auxílio-moradia rende ao casal R$ 8.755,46 por mês, mais de quatro vezes o rendimento médio do trabalhador de Banânia. O pagamento do benefício, que alcança quase 18 mil juízes e 13 mil membros do Ministério Público custa R$ 1,6 bilhão aos cofres públicos. Não sei se ocorre ao leitor: não existe “cofre público”. Existe é o seu dinheiro – Reinaldo Azevedo”.

Quando você alardeia tanto sobre qualidades positivas de determinadas figuras públicas, entendo, é difícil voltar atrás e reconhecer a estupidez. Talvez seja por isso que tanta gente resolveu aquartelar-se de repente, sem mais nem menos: a vergonha inexorável é o casco da tartaruga encurralada, o buraco da avestruz de cútis enrubescida.  

Ser instrumento, mero partícipe num esquema para derrubar políticos já depostos, fora do metiê, não o credencia ao heroísmo; pelo contrário, impõe à sua identidade as amarras que controlam o boneco de ventríloquo.

Uma marionete do sistema sem coragem para rebelar-se contra os verdadeiros acintes, contra todos eles.

E o medo de demonstrar indignação com o dispêndio dos novos Intocáveis denota claramente um novo momento de letargia popular, coletiva.

Durma bem enquanto seus ídolos, sob pretexto de agir dentro da legalidade – ainda que da maneira mais imoral possível – continuam a contribuir com o esvaziamento dos cofres públicos ao mesmo tempo em que recebem seus aplausos e urros de clamor.

Durma bem. E apague a luz.

VISÃO PERIFÉRICA

POR: VINICIUS CANOVA