POR FALAR EM METODOLOGIA...

25 de abril de 2018 875

Uma coisa que nunca entendi é por que ainda não houve um levante por parte de nenhuma universidade brasileira em propor um modelo de apresentação de trabalhos científicos próprio da realidade atual. O máximo que se vê são complementações das regrinhas da ABNT.
E não precisaria ser um modelo geral, pode ser para uma determinada área de conhecimento. As Ciências Jurídicas, por exemplo, cujos artigos, monografias e teses comumente usam - e às vezes abusam - de transcrição de decisões judiciais, em nada se assemelham às Ciências da Saúde, onde os trabalhos têm como característica comum recorrerem às fotografias, imagens obtidas com microscópios, dentre outras ilustrações que lhes são mais apropriadas.
Aliás, convém citar que o padrão Vancouver, por exemplo, foi desenvolvido por uma associação de periódicos médicos americana, a partir do estabelecido pela universidade canadense que lhe emprestou o nome. É, portanto, uma padronização própria de uma determinada área do conhecimento.
Mas não é só a ABNT que peca numa omissão que considero prejudicial à boa cognição de um artigo jurídico, por exemplo, por parte de quem o tenha à mão, sem saber em que data foi produzido. Isso porque, no período que decorre entre o fechamento do texto e sua publicação em um periódico, podem ocorrer - e frequentemente ocorre - o surgimento não apenas de novos diplomas legais, mas também de novas decisões judiciais, inclusive dos tribunais superiores.
O Centro de Estudos e Pesquisas no Ensino do Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (CEPED/UERJ), aliás, é um excelente paradigma, suprindo diversas lacunas verificadas na ABNT, principalmente no que diz respeito às citações e referências, hoje deliberadamente já não mais "referências bibliográficas", mas apenas "referências".
Parece que a preguiça institucional nas escolas superiores tem sido o fator que mais favorece o culto que se estabeleceu à ABNT, que tem seus méritos, obviamente, mas que verdadeiramente não supre a necessidade de padronização da apresentação de trabalhos científicos.
É no mínimo enfadonho ler artigos que afirmam que "Silva (2004) diz que...". E aí o leitor tem que interromper a leitura, ir lá nas Referências ao final do texto, para saber quem é o Silva e em que obra ele disse aquilo, para depois retornar à sequência dos parágrafos e seguir adiante.
A vida corre em velocidade cada vez mais acelerada. As escolas superiores não podem se furtar à proatividade que delas se espera para tratar da maior difusão do conhecimento científico e, necessariamente, da palatabilidade dos textos acadêmicos e sua mais confortável leitura.

EDSON LUSTOSA

Edson Lustosa é jornalista há 30 anos e coordena o projeto Imprensa Cidadã, do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito e Justiça. Escreve às segundas, quartas e sextas-feiras especialmente para o Que Notícias?.