Risco De Intervenção Militar Não É Fantasia

1 de novembro de 2017 644

Sob o título de “Alertar é preciso”, o general Rômulo Bini Pèreira, ex-chefe do Estado Maior do Ministério da Defesa, publicou artigo no jornal “O Estado de São Paulo” alertando para a possibilidade de uma intervenção das Forças Armadas no panorama de “desgraça” hoje existente no país, conforme sua expressão, caso “alcance relevância” o clamor dos que pedem uma ação dos militares. Segundo o general, aqueles que saíram às ruas pedindo intervenção militar “alegam que as Forças Armadas cultuam princípios e valores que não veem em outras instituições e que elas seriam a única solução para a crise atual”.

Todos os brasileiros obviamente são contra a corrupção e aprovam o seu combate – daí o prestígio alcançado pelo pessoal da Lava-Jato – mas muitos já começam a perceber que os investigadores estão agindo partidariamente, seletivamente, só mirando nos suspeitos dos partidos que não lhes são simpáticos. Por isso, estão de fora do “combate”, blindados pelos “caçadores de corruptos”, os tucanos e pemedebistas ligados ao governo Temer acusados de corrupção passiva. E mais: quem, ingenuamente, assinou o projeto não viu que ele estabelecia, entre outras coisas, a extinção do habeas corpus; a legalização do dedo-duro, com o nome de “reportante”, e, mais grave, a validação de provas até mediante tortura, obtidas, segundo os procuradores, de “boa fé”. É claro que a Câmara dos Deputados tinha o dever de alterar o projeto, o que pode fazer a qualquer hora, inclusive a meia noite. Até porque não é obrigada a aprovar qualquer proposta, mesmo de parlamentares, em seu texto original.

Ao mesmo tempo em que elogia “o corajoso desempenho dos juízes de primeira instância”, ou seja, o pessoal da Lava-Jato, o general em seu artigo critica o Supremo Tribunal Federal, onde “são graves as divergências pessoais entre alguns de seus membros” e onde notou “a presença da política partidária”. Critica também o “fatiamento”, pelo ex- presidente da Corte, do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, e classifica de “imorais” os altos salários do Judiciário. Também critica o senador Renan Calheiros, por desobedecer à ordem judicial que o afastou da presidência do Congresso, alivia para o governo Temer, considerando apenas “possível”, apesar das inúmeras delações, o envolvimento da equipe governamental em atos de corrupção, e carrega contra a atual oposição, ou seja, contra o petismo, acusando-o de acuar o governo e de ser “o único responsável pela calamidade que tomou conta do país”. Finalmente, considera tudo isso “uma desgraça sem precedentes”.